O escritor curva a cabeça sobre o teclado do computador,
embora tenha sensibilidade exigida para exercer, por vezes, seu penoso ofício;
sua imaginação não daria conta de listar tudo que ao mesmo tempo acontece no
mundo.
Há uma pena invisível escrevendo várias histórias, enquanto o escritor sua para dar luz a três ou
quatro miseráveis linhas. Ele retira os olhos da tela, os permite descansar nas
luzes da cidade, mas o céu noturno hoje não o inspira, porque ele está
consternado diante de tão vasto mundo. O escritor percebe o quão superficial é o
seu trabalho, uma vez que criar personagens e contar a história deles não
organiza o caos que por ai existe.
O escritor levanta da sua cadeira , fecha seu notebook, sem
pensar em salvar sua dúzia de linhas escritas nas últimas horas. Passeia
pela casa e não sabe se é inspiração mesmo que procura. Na tv desligada, vê um
homem de meia idade perplexo e talvez um pouco melancólico. Percebe,
abruptamente, como o sol iluminando um quarto escuro, que enquanto conta mais
uma história, há outras mais importantes para serem ditas. Ele é só um escritor de
ficção. Não se aventura escrevendo distopias, gosta de dobrar a realidade e dela retirar universos improváveis. Quantos finais felizes já narrou? Mais de uma centena. E as pessoas
reais, em comparação, já estiveram apenas felizes por alguns minutos?
O escritor coça o queixo, precisa se barbear... Senta-se à
mesa da sala, talvez tenha perdido a
inspiração de vez. Quem mandou querer ser engajado. Quanto ao mundo, além das
notícias dos jornais, precisa de um solitário escritor recontando a dor e a
alegria com palavras bonitas?Ou, como é o caso dele, escritor de narrativas
fantásticas, mero descobridor de sentimentos esquecidos, tem alguma
pertinência colocar uma tela em cima do mundo
e reescrevê-lo com rabiscos diferentes?
Mais do que inspiração, precisa de uma resposta. Vale a pena transpassar a alma com sentimentos emprestados de outrem para tornar seu texto autêntico para um desconhecido? Tudo que sabe é que permitir-se inundar por emoções, muitas que nunca viveu, é o sacrifício a que se presta. Então, pelo leitor nunca conhecido, percorre o vocabulário e encontra a melhor palavra. Uma vez feito seu trabalho, a história só se fará completa quando seu destinatário for cativado por ela.
Pequeno leitor, ainda tropeça em algumas palavras. Jovem leitora abraçada à garupa de um cavaleiro de armadura prateada. Experiente leitor, com o livro aberto no peito, sonha com um mundo fabricado que acabou de ler. Simples professora lê contos em seu tablet e divaga sobre interpretações. Em comum, agradecem ao escritor que suspira e volta ao rascunho de repente motivado.
Mais do que inspiração, precisa de uma resposta. Vale a pena transpassar a alma com sentimentos emprestados de outrem para tornar seu texto autêntico para um desconhecido? Tudo que sabe é que permitir-se inundar por emoções, muitas que nunca viveu, é o sacrifício a que se presta. Então, pelo leitor nunca conhecido, percorre o vocabulário e encontra a melhor palavra. Uma vez feito seu trabalho, a história só se fará completa quando seu destinatário for cativado por ela.
Pequeno leitor, ainda tropeça em algumas palavras. Jovem leitora abraçada à garupa de um cavaleiro de armadura prateada. Experiente leitor, com o livro aberto no peito, sonha com um mundo fabricado que acabou de ler. Simples professora lê contos em seu tablet e divaga sobre interpretações. Em comum, agradecem ao escritor que suspira e volta ao rascunho de repente motivado.
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