José de Alencar provavelmente ao escrever Senhora não sabia que estava compondo seu melhor livro, é claro que o Romantismo Brasileiro produziu inúmeros livros cuja leitura é bastante agradável. Para citar apenas dois, A moreninha é uma história bem escrita e a narrativa têm alguns encantos, e o livro A escrava Isaura não fica para trás, ambos têm todos os elementos que se esperam encontrar em histórias românticas: um amor poderoso capaz de lutar contra todos os revezes da vida, um personagem masculino que arranca suspiros e uma ingenuidade que os torna cativantes.
Entretanto, o que falta neles, Senhora tem a ponto de sobejar, a intensidade tão própria do Romantismo. Alencar caprichou nesse livro e acrescentou a ele todos os nuances de uma história marcante. Em primeiro lugar, tantas qualidades se deve ao minucioso trabalho do autor para compor Aurélia cuja têmpera excede a praticamente todas as outras protagonistas de livros do Roamantismo. Aurélia sofre várias mudanças no decorrer da história, de moça pobre se torna elegante e vingativa, tudo isso porque não conseguia perdoar o homem que a trocou por outra. A personagem segue uma linha dramática cujo enredo oscila entre um amor traído e uma vingança justa.
Além de Aurélia, Fernando Seixas é ao mesmo tempo o herói da história e vilão. É herói porque se deixa mudar pelo amor de Aurélia e é vilão porque ousou trocar amor verdadeiro por dinheiro. Seixas segue uma trajetória particular e se torna cativante à medida que reavalia sua conduta e, após o casamento, exposto a um "amor implacável' vê-se obrigado a resgatar sua dignidade. É por causa de Aurélia que ele se refaz, só esse fato o torna inesquecível para quem o compara com outros personagens masculinos.
Mais um mérito de José de Alencar, além da bela história que conta, são os momentos em que Aurélia e Seixas discutem, os diálogos são muito bem construídos e o exagero tipico do Romantismo alcança suas maiores notas nesses momentos. Uma dessas cenas, que é uma das mais famosas da literatura brasileira, é a da noite de núpcias quando Aurélia conta a Seixas que o comprou.
Também é do livro Senhora que surge belas citações em que Alencar, através de Aurélia, delineia a alma do Romantismo: "Amava seu amor mais do que o amante, era mais poeta do que mulher" e Não se assassina assim um coração que Deus criou para amar, incutindo nele a vingança e o ódio."
Algumas pessoas criticam o Romantismo, bem como José de Alencar, por sua mania de escrever descrições desnecessárias, por exemplo, quando o escritor esmiúça os trajes e os ambientes com riqueza de detalhes; fazendo o mesmo com a s emoções e sentimentos das personagens não deixando para o leitor tirar conclusões e fazer seus julgamentos. Outra crítica é que livros desse tipo são óbvios demais, o final será feliz aconteça o que acontecer. Senhora também tem todas as características que são objetos de crítica, mas o que o torna diferente de seus pares é sua capacidade de convencer. Não tem como não se identificar com Aurélia e as exigências nascidas de seus sentimentos magoados.
A cena da noite de núpcias representada na novela Essas mulheres:
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