Uma das perguntas mais repetidas na sala dos
professores, principalmente entre professores de língua portuguesa, é “Por que
os alunos na infância adoram ler e à medida que crescem odeiam?”. Há duas
respostas para ela, uma fácil e outra bem mais complexa. A fácil é que os
adolescentes, segundo eles mesmos, pensam ter coisas melhores para fazer:
paquerar, navegar pelas redes sociais, mexer no celular a cada segundo que
passa etc. A resposta complexa que obviamente precisa ser cada dia mais complementada
é que os pais não ensinaram/ensinam os filhos a gostarem de ler porque eles mesmos
não se interessam por isso, e a escola sozinha não consegue fazer frente a
tantos outros entreterimentos.
Percebendo que formar alunos leitores
não é fácil, há mais uma pergunta que envolve a leitura e também é tema de debate
entre professores e acadêmicos: “Quanto aos alunos leitores, ler qualquer livro
é benéfico para eles?”. A resposta a essa pergunta é sim. É melhor que o jovem
leia um livro de qualidade duvidável do que não leia nada. Em primeiro lugar, é
preciso definir o que é um livro de qualidade. Para muitos, leitura de
qualidade é Machado de Assis, Luis Fernando Veríssimo, Clarice Lispector e tantos outros. Os textos desses autores
pedem um leitor razoável para maduro e embora adolescente possam se deleitar
com os livros de escritores consagrados,
não dá para negar que para a maioria deles, Machado de Assis é entediante.
Portanto, limitar o que os jovens devem ler e considerar os livros feitos para
adolescentes (que pululam no mercado editorial atualmente) prejudiciais é
equivocado.
Em relação à leitura, principalmente quando
se fala de livros para adolescentes, é preciso fazer um separação.
Primeiramente, para muitos (jovens ou não) a leitura é somente entreterimento,
em outras palavras, é uma forma de diversão, puro deleite. Muitos leitores
enquanto leem um livro não estão preocupados se estão aprendendo alguma coisa,
isto é, eles não escolhem o livro por ser literatura ou porque seu autor é consagrado.
O leitor lê a sinopse, gosta da história e pronto. Lá vai ele feliz da vida com
um livro debaixo do braço.
Um livro pode ser analisado por diversos
aspectos, um deles é a narrativa ou o delineamento das personagens. Pode ser analisado
pelo seu engajamento com determinado assunto, por exemplo, os livros que narram
os horrores da Segunda Guerra Mundial (que são muito queridos pelos alunos).
Cabe dizer também que a escolha de um livro
passa pelo gosto particular de cada leitor. Uns adoram romances
água-com-acúcar; outros, preferem histórias fantásticas etc. O gênero do livro
não interfere na sua qualidade e mesmo com um livro ruim, sob os aspectos da
sua construção, por exemplo, história clichê, personagens planos, final óbvio
etc; o leitor ainda assim pode aprender alguma coisa com ele, uma vez que lendo
pode-se aprender a escrever melhor. Com um livro ruim, um leitor mesmo jovem e/ou iniciante saberá
dizer o que faltou à história para torná-la mais cativante. Com o tempo,
qualquer leitor acaba sabendo o que o leva a se apaixonar por um livro.
Boa parte dos livros não ganhará o Nobel de
literatura e tantos outros nunca alcançaram o status de literatura, mas desses
mesmos livros, muitos marcarão a vida de vários leitores. Muita gente leu o
livro O Pequeno Príncipe e o considera
excelente leitura pela sua singeleza e doçura. Entretanto Exupéry escreveu
outros livros que, se não são tão bons quanto o do principezinho, são de qualidade
inegável, pouca gente sabe da existência deles e isso não é um demérito para o
autor. Ter reconhecimento não é sinal de qualidade inquestionável, portanto a
literatura não é uma ciência exata. O que para grandes autores é uma excelente
obra literária, para leitores (mesmo acadêmicos) pode ser mero jogo linguístico.
Quanto a livros feitos para adolescentes e
jovens (mas lidos por pessoas de variadas faixas etárias) pode-se ressaltar o
excelente A culpa é das estrelas, de John Green, e a fantástica trilogia Jogos
Vorazes, de Susanne Collins. Ambos foram sucesso de vendas, são livros bem
escritos, com história que entretém e ao mesmo tempo reverberam reflexões. No
Brasil, marcaram várias gerações os livros do escritor Pedro Bandeira: A droga
da obediência, A droga do amor e A marca de uma lágrima cujas narrativas têm doçura,
diversão e dramas típicos da adolescência sem ser clichê.
O
leitor ideal é aquele que mantém sua curiosidade em ação e está sempre disposto
a caminhar entre variados estilos, lendo de tudo um pouco. Se for possível
fazer uma escala de valores com esse assunto, um leitor eclético sempre será o
melhor leitor.
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