quinta-feira, 10 de julho de 2014

A leitura, a leitura entreterimento e a literatura


   Uma das perguntas mais repetidas na sala dos professores, principalmente entre professores de língua portuguesa, é “Por que os alunos na infância adoram ler e à medida que crescem odeiam?”. Há duas respostas para ela, uma fácil e outra bem mais complexa. A fácil é que os adolescentes, segundo eles mesmos, pensam ter coisas melhores para fazer: paquerar, navegar pelas redes sociais, mexer no celular a cada segundo que passa etc. A resposta complexa que obviamente precisa ser cada dia mais complementada é que os pais não ensinaram/ensinam os filhos a gostarem de ler porque eles mesmos não se interessam por isso, e a escola sozinha não consegue fazer frente a tantos outros entreterimentos.
       Percebendo que formar alunos leitores não é fácil, há mais uma pergunta que envolve a leitura e também é tema de debate entre professores e acadêmicos: “Quanto aos alunos leitores, ler qualquer livro é benéfico para eles?”. A resposta a essa pergunta é sim. É melhor que o jovem leia um livro de qualidade duvidável do que não leia nada. Em primeiro lugar, é preciso definir o que é um livro de qualidade. Para muitos, leitura de qualidade é Machado de Assis, Luis Fernando Veríssimo, Clarice Lispector  e tantos outros. Os textos desses autores pedem um leitor razoável para maduro e embora adolescente possam se deleitar com  os livros de escritores consagrados, não dá para negar que para a maioria deles, Machado de Assis é entediante. Portanto, limitar o que os jovens devem ler e considerar os livros feitos para adolescentes (que pululam no mercado editorial atualmente) prejudiciais é equivocado.
     Em relação à leitura, principalmente quando se fala de livros para adolescentes, é preciso fazer um separação. Primeiramente, para muitos (jovens ou não) a leitura é somente entreterimento, em outras palavras, é uma forma de diversão, puro deleite. Muitos leitores enquanto leem um livro não estão preocupados se estão aprendendo alguma coisa, isto é, eles não escolhem o livro por ser literatura ou porque seu autor é consagrado. O leitor lê a sinopse, gosta da história e pronto. Lá vai ele feliz da vida com um livro debaixo do braço.  
   Um livro pode ser analisado por diversos aspectos, um deles é a narrativa ou o delineamento das personagens. Pode ser analisado pelo seu engajamento com determinado assunto, por exemplo, os livros que narram os horrores da Segunda Guerra Mundial (que são muito queridos pelos alunos).
     Cabe dizer também que a escolha de um livro passa pelo gosto particular de cada leitor. Uns adoram romances água-com-acúcar; outros, preferem histórias fantásticas etc. O gênero do livro não interfere na sua qualidade e mesmo com um livro ruim, sob os aspectos da sua construção, por exemplo, história clichê, personagens planos, final óbvio etc; o leitor ainda assim pode aprender alguma coisa com ele, uma vez que lendo pode-se aprender a escrever melhor. Com um livro ruim,  um leitor mesmo jovem e/ou iniciante saberá dizer o que faltou à história para torná-la mais cativante. Com o tempo, qualquer leitor acaba sabendo o que o leva a se apaixonar por um livro.
     Boa parte dos livros não ganhará o Nobel de literatura e tantos outros nunca alcançaram o status de literatura, mas desses mesmos livros, muitos marcarão a vida de vários leitores. Muita gente leu o livro O Pequeno Príncipe  e o considera excelente leitura pela sua singeleza e doçura. Entretanto Exupéry escreveu outros livros que, se não são tão bons quanto o do principezinho, são de qualidade inegável, pouca gente sabe da existência deles e isso não é um demérito para o autor. Ter reconhecimento não é sinal de qualidade inquestionável, portanto a literatura não é uma ciência exata. O que para grandes autores é uma excelente obra literária, para leitores (mesmo acadêmicos) pode ser mero jogo linguístico.
    Quanto a livros feitos para adolescentes e jovens (mas lidos por pessoas de variadas faixas etárias) pode-se ressaltar o excelente A culpa é das estrelas, de John Green, e a fantástica trilogia Jogos Vorazes, de Susanne Collins. Ambos foram sucesso de vendas, são livros bem escritos, com história que entretém e ao mesmo tempo reverberam reflexões. No Brasil, marcaram várias gerações os livros do escritor Pedro Bandeira: A droga da obediência, A droga do amor e A marca de uma lágrima cujas narrativas têm doçura, diversão e dramas típicos da adolescência sem ser clichê.
   O leitor ideal é aquele que mantém sua curiosidade em ação e está sempre disposto a caminhar entre variados estilos, lendo de tudo um pouco. Se for possível fazer uma escala de valores com esse assunto, um leitor eclético sempre será o melhor leitor.

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