Hoje
as crianças crescem rápido, uma criança de dez anos tem um comportamento semelhante a um adolescente de quinze. Quer as mesmas coisas, tem os mesmos
desejos, se veste igual, admira os mesmo artistas e não é raro não estar mais
sob o controle dos pais. Um pré-adolescente há dez anos atrás era uma criança
de doze, agora com essa idade é um adolescente completo, muitas vezes até mesmo
namorando tal qual um jovem de dezoito. Se as crianças soubessem como é difícil
ser adulto, elas almejariam passar bastante tempo brincando antes de se
aventurar a crescer.
É
fácil especular as causas desse crescimento precoce. Talvez parte da culpa seja
dos pais que não se dedicam o suficiente a orientarem seus filhos, não
propiciando a eles o tempo adequado para seu amadurecimento. Alguém objetará
dizendo que a responsabilidade, na verdade, é do mundo, afinal “tudo muda o
tempo todo no mundo” e o século XXI tem outra mentalidade e compará-lo com o
passado é ser saudosista. Outros dirão que a responsabilidade é também da
escola, e essa afirmação não me darei ao trabalho de responder, mas se
respondesse diria que a escola não faz milagres.
Só porque estamos na era da informação e temos
mais tecnologia do que nossos bisavós sonharam, não quer dizer que tudo no
mundo mudou para melhor. As crianças crescerem fora da hora é prejudicial para
elas a médio e longo prazo. Sem procurar culpados, mas na aventura de procurar
as causas, um motivo por que as crianças são levadas a deixarem de ser crianças
é que a mídia (tv, internet etc) sabe que adolescentes podem ser melhores
consumidores do que crianças, uma vez que a criança ainda está (ou deveria
estar) sob o domínio dos pais, enquanto os adolescentes e jovens têm a capacidade
de escolha maior. Por exemplo, uma criança não vai sozinha ao shopping, uma criança acredita que deve esperar até o
natal o Papai Noel trazer seu presente, tente convencer um adolescente a
esperar. As diversões do adolescente exigem dinheiro, uma criança pode ficar
feliz em frequentar o parquinho próximo de casa. É claro que todos as regras têm
sua raras exceções.
Parece que quando a criança não é criança
na época adequada, se transformando em adolescente rápido, é que ela passa a ser
jovem por mais tempo. Sabemos que a sociedade tem uma total rejeição pelo
envelhecimento, haja vista a forma que muitos jovens tratam os idosos nos
ônibus. Em nossa cultura envelhecer é degradante, por isso, cada dia mais as cirurgias
plásticas são procuradas, a toda hora surge um tratamento novo ou um creme
milagroso para evitar as tão temidas rugas. Mas cuidar da aparência não é o
problema, aliás, se cuidar é benéfico. O ponto de tensão se dá quando a loucura
coletiva chega a tal ponto que pessoas de trinta e cinco anos se comportam da
mesma forma que jovens de vinte ou menos. A mesma mídia que insiste no
crescimento precoce da criança, fortifica a ideia de que as pessoas só são
necessárias quando jovens.
Há uma confusão de termos, inclusive. Todos
estão “condenados” a envelhecer ( e muitos querem tirar o máximo da vida até
lá), não se pode dizer o mesmo de amadurecer, os supostos jovens rejeitam o
processo natural da vida. Assim, vemos pais sendo amigos, ao invés de abraçarem
o ônus que ter um filho implica. O problema de pessoas que não amadurecem é que
elas não estão dispostas a assumir responsabilidades. Talvez aqui esteja o
cerne de alguns problemas da sociedade brasileira. Aquele que não amadurece e passa
muito tempo adulando a juventude,
negando o que vê no espelho, é evitar as decisões que só um adulto está
preparado para fazer.
Quem é amadurecido sabe que precisa
entender o que a palavra compromisso significa. Um jovem entende bem a paixão e
é vitima dela, uma adulto sabe que só quem se compromete conhece o amor. Porém
um jovem dirá viver bem apaixonado; alguém que amadureceu prefere alguém com
quem contar. Um jovem têm milhões de
colegas e talvez possa contar com um deles, um adulto tem raros amigos e pode
contar com todos eles. Amadurecer tem seu preço e uma geração eternos de jovens
não está preparada para eles. Assim, nossa sociedade continua agindo como
criança mimada, confunde direito com privilégios, ignora seus deveres com seu
país e com o outro. Porque é jovem e só quer curtir.
Felizmente (infelizmente, outros dirão) a
idade chega para todo mundo e ainda que tarde, esses jovens, mesmo que não
tenham amadurecido, se olharão no espelho. E se viveram uma vida que não foi
construída sob a responsabilidade e o compromisso, não poderão ter construído
nada de significativo. Não consigo pensar em nada que valha a pena ter que não
precise de compromisso para ser construído.
Com ou sem maturidade, quando a idade
chega, é preciso uma história feita de altos e baixos para continuar vivendo
bem, permitindo a cada época ter sua beleza, suas experiências. Uma velhice
ruim é aquela vivida à sombra das saudades do passado. Como diria Nelson
Rodrigues: “Jovens, envelheçam.”
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