segunda-feira, 14 de julho de 2014

Sobre crescer, amadurecer e envelhecer


        Hoje as crianças crescem rápido, uma criança de dez anos tem um comportamento semelhante a um adolescente de quinze. Quer as mesmas coisas, tem os mesmos desejos, se veste igual, admira os mesmo artistas e não é raro não estar mais sob o controle dos pais. Um pré-adolescente há dez anos atrás era uma criança de doze, agora com essa idade é um adolescente completo, muitas vezes até mesmo namorando tal qual um jovem de dezoito. Se as crianças soubessem como é difícil ser adulto, elas almejariam passar bastante tempo brincando antes de se aventurar a crescer.
         É fácil especular as causas desse crescimento precoce. Talvez parte da culpa seja dos pais que não se dedicam o suficiente a orientarem seus filhos, não propiciando a eles o tempo adequado para seu amadurecimento. Alguém objetará dizendo que a responsabilidade, na verdade, é do mundo, afinal “tudo muda o tempo todo no mundo” e o século XXI tem outra mentalidade e compará-lo com o passado é ser saudosista. Outros dirão que a responsabilidade é também da escola, e essa afirmação não me darei ao trabalho de responder, mas se respondesse diria que a escola não faz milagres.
        Só porque estamos na era da informação e temos mais tecnologia do que nossos bisavós sonharam, não quer dizer que tudo no mundo mudou para melhor. As crianças crescerem fora da hora é prejudicial para elas a médio e longo prazo. Sem procurar culpados, mas na aventura de procurar as causas, um motivo por que as crianças são levadas a deixarem de ser crianças é que a mídia (tv, internet etc) sabe que adolescentes podem ser melhores consumidores do que crianças, uma vez que a criança ainda está (ou deveria estar) sob o domínio dos pais, enquanto os adolescentes e jovens têm a capacidade de escolha maior. Por exemplo, uma criança não vai sozinha ao shopping,  uma criança acredita que deve esperar até o natal o Papai Noel trazer seu presente, tente convencer um adolescente a esperar. As diversões do adolescente exigem dinheiro, uma criança pode ficar feliz em frequentar o parquinho próximo de casa. É claro que todos as regras têm sua raras exceções.
    Parece que quando a criança não é criança na época adequada, se transformando em adolescente rápido, é que ela passa a ser jovem por mais tempo. Sabemos que a sociedade tem uma total rejeição pelo envelhecimento, haja vista a forma que muitos jovens tratam os idosos nos ônibus. Em nossa cultura envelhecer é degradante, por isso, cada dia mais as cirurgias plásticas são procuradas, a toda hora surge um tratamento novo ou um creme milagroso para evitar as tão temidas rugas. Mas cuidar da aparência não é o problema, aliás, se cuidar é benéfico. O ponto de tensão se dá quando a loucura coletiva chega a tal ponto que pessoas de trinta e cinco anos se comportam da mesma forma que jovens de vinte ou menos. A mesma mídia que insiste no crescimento precoce da criança, fortifica a ideia de que as pessoas só são necessárias quando jovens.
     Há uma confusão de termos, inclusive. Todos estão “condenados” a envelhecer ( e muitos querem tirar o máximo da vida até lá), não se pode dizer o mesmo de amadurecer, os supostos jovens rejeitam o processo natural da vida. Assim, vemos pais sendo amigos, ao invés de abraçarem o ônus que ter um filho implica. O problema de pessoas que não amadurecem é que elas não estão dispostas a assumir responsabilidades. Talvez aqui esteja o cerne de alguns problemas da sociedade brasileira. Aquele que não amadurece e passa muito tempo adulando a  juventude, negando o que vê no espelho, é evitar as decisões que só um adulto está preparado para fazer.
     Quem é amadurecido sabe que precisa entender o que a palavra compromisso significa. Um jovem entende bem a paixão e é vitima dela, uma adulto sabe que só quem se compromete conhece o amor. Porém um jovem dirá viver bem apaixonado; alguém que amadureceu prefere alguém com quem contar.  Um jovem têm milhões de colegas e talvez possa contar com um deles, um adulto tem raros amigos e pode contar com todos eles. Amadurecer tem seu preço e uma geração eternos de jovens não está preparada para eles. Assim, nossa sociedade continua agindo como criança mimada, confunde direito com privilégios, ignora seus deveres com seu país e com o outro. Porque é jovem e só quer curtir.
    Felizmente (infelizmente, outros dirão) a idade chega para todo mundo e ainda que tarde, esses jovens, mesmo que não tenham amadurecido, se olharão no espelho. E se viveram uma vida que não foi construída sob a responsabilidade e o compromisso, não poderão ter construído nada de significativo. Não consigo pensar em nada que valha a pena ter que não precise de compromisso para ser construído.
    Com ou sem maturidade, quando a idade chega, é preciso uma história feita de altos e baixos para continuar vivendo bem, permitindo a cada época ter sua beleza, suas experiências. Uma velhice ruim é aquela vivida à sombra das saudades do passado. Como diria Nelson Rodrigues: “Jovens, envelheçam.”

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