segunda-feira, 28 de julho de 2014

Ao escritor com carinho


        O escritor curva a cabeça sobre o teclado do computador, embora tenha sensibilidade exigida para exercer, por vezes, seu penoso ofício; sua imaginação não daria conta de listar tudo que ao mesmo tempo acontece no mundo. 
         Há uma pena invisível escrevendo várias histórias, enquanto o escritor sua para dar luz a três ou quatro miseráveis linhas. Ele retira os olhos da tela, os permite descansar nas luzes da cidade, mas o céu noturno hoje não o inspira, porque ele está consternado diante de tão vasto mundo. O escritor percebe o quão superficial é o seu trabalho, uma vez que criar personagens e contar a história deles não organiza o caos que por ai existe.
        O escritor levanta da sua cadeira , fecha seu notebook, sem pensar em salvar sua dúzia de linhas escritas nas últimas horas. Passeia pela casa e não sabe se é inspiração mesmo que procura.           Na tv desligada, vê um homem de meia idade perplexo e talvez um pouco melancólico. Percebe, abruptamente, como o sol iluminando um quarto escuro, que enquanto conta mais uma história, há outras mais importantes para serem ditas. Ele é só um escritor de ficção. Não se aventura escrevendo distopias, gosta de dobrar a realidade e dela retirar universos improváveis.  Quantos finais felizes já narrou? Mais de uma centena. E as pessoas reais, em comparação, já estiveram apenas felizes por alguns minutos?
O escritor coça o queixo, precisa se barbear... Senta-se à mesa  da sala, talvez tenha perdido a inspiração de vez. Quem mandou querer ser engajado. Quanto ao mundo, além das notícias dos jornais, precisa de um solitário escritor recontando a dor e a alegria com palavras bonitas?Ou, como é o caso dele, escritor de narrativas fantásticas, mero descobridor de sentimentos esquecidos, tem alguma pertinência  colocar uma tela em cima do mundo e reescrevê-lo com rabiscos diferentes?
      Mais do que inspiração,  precisa de uma resposta.  Vale a pena transpassar a alma com sentimentos emprestados de outrem para tornar seu texto autêntico para um desconhecido? Tudo que sabe é que permitir-se inundar por emoções, muitas que nunca viveu, é o sacrifício a que se presta. Então,  pelo leitor nunca conhecido, percorre o vocabulário e encontra a melhor palavra. Uma vez feito seu trabalho, a história só se fará completa quando seu destinatário for cativado por ela. 
     Pequeno leitor, ainda tropeça em algumas palavras. Jovem leitora abraçada à garupa de um cavaleiro de armadura prateada. Experiente leitor, com o livro aberto no peito, sonha com um mundo fabricado que acabou de ler. Simples professora lê contos em seu tablet  e divaga sobre interpretações. Em comum, agradecem ao escritor que suspira e volta ao rascunho de repente motivado.

sexta-feira, 25 de julho de 2014

Sem relógio


  
    Para saudade, pouco tempo é muito tempo. A mágoa quase esquecida no coração precisa sempre de mais tempo. Para as avós, o tempo cura tudo.  O burocrata  finge não saber que tempo é dinheiro. Nascer o perdão, tempo vezes tempo. Para o escritor achar a palavra perfeita, sensibilidade e tempo.  Nove meses de tempo para uma criança. Aprender? Dedicação e tempo. Para o amor provar-se forte precisa vencer  o tempo. Ter paciência, duas doses de paciência e um bom tempo. Para sabedoria, cabelos brancos e décadas de tempo.  As pirâmides abusaram do tempo.  Niemeyer recebeu muito tempo.  Crusoé: tempo era sinônimo de solidão. Para os jovens,  todo o tempo do mundo.  A tecnologia é mais rápida do que o tempo. O tempo é senhor da razão, foi-me dito. Quem enfermou, cada hora é igual a menos tempo.  Para quem partiu, eu queria pedir mais tempo aqui. Michelangelo  dedicou muito tempo à  Capela Sistina.   A beleza, o tempo leva.  Uma prova difícil, nem todo tempo. Algumas vezes, dar tempo ao tempo, resolve.  Para o arrependido, o tempo não anda para trás. Reveses e muito tempo para conhecer os amigos. Dois jovens conhecidos, pouco mais ou pouco menos de dezoito anos de tempo. A ansiedade vê o tempo coagulado. Com insônia, triste tic tac. Infância, melhor tempo. Algumas lembranças, nem muito tempo. Férias, muitos passatempos. E o tempo levou... será o nome do filme do nosso tempo. Quando? Pronome interrogativo de tempo. Para sempre,  promessa de vencer o tempo. Nunca, promessa de quem acha que não  mudará com o tempo. Vento, boa metáfora para tempo. Nenhuma mentira sobrevive ao passar do tempo. Tempo amigo, seja legal. Aos amigos da escola, passou tanto tempo. O ocupado nunca tem tempo. Construção da Muralha da China, ultrapassaram o tempo. Einstein, o tempo é relativo. Eu já tive mais tempo. Érico Veríssimo, O tempo e o vento precisa de bastante tempo. Para Israel e Hamas, mais quanto tempo?  Milagre, intervenção divina no tempo. Quintana jogaria fora a casca dourada e inútil das horas. Eu? Eu quero apostar uma corrida com o tempo e vencê-lo de lavada porque tenho um universo sem relógio no peito que pede: "Infinito, para sempre, infinito, para sempre..."


segunda-feira, 14 de julho de 2014

Sobre crescer, amadurecer e envelhecer


        Hoje as crianças crescem rápido, uma criança de dez anos tem um comportamento semelhante a um adolescente de quinze. Quer as mesmas coisas, tem os mesmos desejos, se veste igual, admira os mesmo artistas e não é raro não estar mais sob o controle dos pais. Um pré-adolescente há dez anos atrás era uma criança de doze, agora com essa idade é um adolescente completo, muitas vezes até mesmo namorando tal qual um jovem de dezoito. Se as crianças soubessem como é difícil ser adulto, elas almejariam passar bastante tempo brincando antes de se aventurar a crescer.
         É fácil especular as causas desse crescimento precoce. Talvez parte da culpa seja dos pais que não se dedicam o suficiente a orientarem seus filhos, não propiciando a eles o tempo adequado para seu amadurecimento. Alguém objetará dizendo que a responsabilidade, na verdade, é do mundo, afinal “tudo muda o tempo todo no mundo” e o século XXI tem outra mentalidade e compará-lo com o passado é ser saudosista. Outros dirão que a responsabilidade é também da escola, e essa afirmação não me darei ao trabalho de responder, mas se respondesse diria que a escola não faz milagres.
        Só porque estamos na era da informação e temos mais tecnologia do que nossos bisavós sonharam, não quer dizer que tudo no mundo mudou para melhor. As crianças crescerem fora da hora é prejudicial para elas a médio e longo prazo. Sem procurar culpados, mas na aventura de procurar as causas, um motivo por que as crianças são levadas a deixarem de ser crianças é que a mídia (tv, internet etc) sabe que adolescentes podem ser melhores consumidores do que crianças, uma vez que a criança ainda está (ou deveria estar) sob o domínio dos pais, enquanto os adolescentes e jovens têm a capacidade de escolha maior. Por exemplo, uma criança não vai sozinha ao shopping,  uma criança acredita que deve esperar até o natal o Papai Noel trazer seu presente, tente convencer um adolescente a esperar. As diversões do adolescente exigem dinheiro, uma criança pode ficar feliz em frequentar o parquinho próximo de casa. É claro que todos as regras têm sua raras exceções.
    Parece que quando a criança não é criança na época adequada, se transformando em adolescente rápido, é que ela passa a ser jovem por mais tempo. Sabemos que a sociedade tem uma total rejeição pelo envelhecimento, haja vista a forma que muitos jovens tratam os idosos nos ônibus. Em nossa cultura envelhecer é degradante, por isso, cada dia mais as cirurgias plásticas são procuradas, a toda hora surge um tratamento novo ou um creme milagroso para evitar as tão temidas rugas. Mas cuidar da aparência não é o problema, aliás, se cuidar é benéfico. O ponto de tensão se dá quando a loucura coletiva chega a tal ponto que pessoas de trinta e cinco anos se comportam da mesma forma que jovens de vinte ou menos. A mesma mídia que insiste no crescimento precoce da criança, fortifica a ideia de que as pessoas só são necessárias quando jovens.
     Há uma confusão de termos, inclusive. Todos estão “condenados” a envelhecer ( e muitos querem tirar o máximo da vida até lá), não se pode dizer o mesmo de amadurecer, os supostos jovens rejeitam o processo natural da vida. Assim, vemos pais sendo amigos, ao invés de abraçarem o ônus que ter um filho implica. O problema de pessoas que não amadurecem é que elas não estão dispostas a assumir responsabilidades. Talvez aqui esteja o cerne de alguns problemas da sociedade brasileira. Aquele que não amadurece e passa muito tempo adulando a  juventude, negando o que vê no espelho, é evitar as decisões que só um adulto está preparado para fazer.
     Quem é amadurecido sabe que precisa entender o que a palavra compromisso significa. Um jovem entende bem a paixão e é vitima dela, uma adulto sabe que só quem se compromete conhece o amor. Porém um jovem dirá viver bem apaixonado; alguém que amadureceu prefere alguém com quem contar.  Um jovem têm milhões de colegas e talvez possa contar com um deles, um adulto tem raros amigos e pode contar com todos eles. Amadurecer tem seu preço e uma geração eternos de jovens não está preparada para eles. Assim, nossa sociedade continua agindo como criança mimada, confunde direito com privilégios, ignora seus deveres com seu país e com o outro. Porque é jovem e só quer curtir.
    Felizmente (infelizmente, outros dirão) a idade chega para todo mundo e ainda que tarde, esses jovens, mesmo que não tenham amadurecido, se olharão no espelho. E se viveram uma vida que não foi construída sob a responsabilidade e o compromisso, não poderão ter construído nada de significativo. Não consigo pensar em nada que valha a pena ter que não precise de compromisso para ser construído.
    Com ou sem maturidade, quando a idade chega, é preciso uma história feita de altos e baixos para continuar vivendo bem, permitindo a cada época ter sua beleza, suas experiências. Uma velhice ruim é aquela vivida à sombra das saudades do passado. Como diria Nelson Rodrigues: “Jovens, envelheçam.”

quinta-feira, 10 de julho de 2014

A leitura, a leitura entreterimento e a literatura


   Uma das perguntas mais repetidas na sala dos professores, principalmente entre professores de língua portuguesa, é “Por que os alunos na infância adoram ler e à medida que crescem odeiam?”. Há duas respostas para ela, uma fácil e outra bem mais complexa. A fácil é que os adolescentes, segundo eles mesmos, pensam ter coisas melhores para fazer: paquerar, navegar pelas redes sociais, mexer no celular a cada segundo que passa etc. A resposta complexa que obviamente precisa ser cada dia mais complementada é que os pais não ensinaram/ensinam os filhos a gostarem de ler porque eles mesmos não se interessam por isso, e a escola sozinha não consegue fazer frente a tantos outros entreterimentos.
       Percebendo que formar alunos leitores não é fácil, há mais uma pergunta que envolve a leitura e também é tema de debate entre professores e acadêmicos: “Quanto aos alunos leitores, ler qualquer livro é benéfico para eles?”. A resposta a essa pergunta é sim. É melhor que o jovem leia um livro de qualidade duvidável do que não leia nada. Em primeiro lugar, é preciso definir o que é um livro de qualidade. Para muitos, leitura de qualidade é Machado de Assis, Luis Fernando Veríssimo, Clarice Lispector  e tantos outros. Os textos desses autores pedem um leitor razoável para maduro e embora adolescente possam se deleitar com  os livros de escritores consagrados, não dá para negar que para a maioria deles, Machado de Assis é entediante. Portanto, limitar o que os jovens devem ler e considerar os livros feitos para adolescentes (que pululam no mercado editorial atualmente) prejudiciais é equivocado.
     Em relação à leitura, principalmente quando se fala de livros para adolescentes, é preciso fazer um separação. Primeiramente, para muitos (jovens ou não) a leitura é somente entreterimento, em outras palavras, é uma forma de diversão, puro deleite. Muitos leitores enquanto leem um livro não estão preocupados se estão aprendendo alguma coisa, isto é, eles não escolhem o livro por ser literatura ou porque seu autor é consagrado. O leitor lê a sinopse, gosta da história e pronto. Lá vai ele feliz da vida com um livro debaixo do braço.  
   Um livro pode ser analisado por diversos aspectos, um deles é a narrativa ou o delineamento das personagens. Pode ser analisado pelo seu engajamento com determinado assunto, por exemplo, os livros que narram os horrores da Segunda Guerra Mundial (que são muito queridos pelos alunos).
     Cabe dizer também que a escolha de um livro passa pelo gosto particular de cada leitor. Uns adoram romances água-com-acúcar; outros, preferem histórias fantásticas etc. O gênero do livro não interfere na sua qualidade e mesmo com um livro ruim, sob os aspectos da sua construção, por exemplo, história clichê, personagens planos, final óbvio etc; o leitor ainda assim pode aprender alguma coisa com ele, uma vez que lendo pode-se aprender a escrever melhor. Com um livro ruim,  um leitor mesmo jovem e/ou iniciante saberá dizer o que faltou à história para torná-la mais cativante. Com o tempo, qualquer leitor acaba sabendo o que o leva a se apaixonar por um livro.
     Boa parte dos livros não ganhará o Nobel de literatura e tantos outros nunca alcançaram o status de literatura, mas desses mesmos livros, muitos marcarão a vida de vários leitores. Muita gente leu o livro O Pequeno Príncipe  e o considera excelente leitura pela sua singeleza e doçura. Entretanto Exupéry escreveu outros livros que, se não são tão bons quanto o do principezinho, são de qualidade inegável, pouca gente sabe da existência deles e isso não é um demérito para o autor. Ter reconhecimento não é sinal de qualidade inquestionável, portanto a literatura não é uma ciência exata. O que para grandes autores é uma excelente obra literária, para leitores (mesmo acadêmicos) pode ser mero jogo linguístico.
    Quanto a livros feitos para adolescentes e jovens (mas lidos por pessoas de variadas faixas etárias) pode-se ressaltar o excelente A culpa é das estrelas, de John Green, e a fantástica trilogia Jogos Vorazes, de Susanne Collins. Ambos foram sucesso de vendas, são livros bem escritos, com história que entretém e ao mesmo tempo reverberam reflexões. No Brasil, marcaram várias gerações os livros do escritor Pedro Bandeira: A droga da obediência, A droga do amor e A marca de uma lágrima cujas narrativas têm doçura, diversão e dramas típicos da adolescência sem ser clichê.
   O leitor ideal é aquele que mantém sua curiosidade em ação e está sempre disposto a caminhar entre variados estilos, lendo de tudo um pouco. Se for possível fazer uma escala de valores com esse assunto, um leitor eclético sempre será o melhor leitor.

quarta-feira, 9 de julho de 2014

Jogos vorazes – o livro e os filmes (SPOILER)




     Dia desses, escrevi sobre A culpa das estrelas e esqueci que a trilogia Jogos Vorazes é digna de ser comentada. Jogos Vorazes é mais um livro para jovens que se diferencia de tantos outros do mesmo segmento pela sua capacidade de entreter e ao mesmo tempo sugerir uma crítica da sociedade atual. Trazendo um ambiente pós-revolução, A Panem, o país descrito nesse livro, foi dividida em treze distritos e teve sua democracia enterrada pelo principal deles, chamado Capital. Para lembrar da guerra civil de outrora, há uma disputa entre os distritos, os jogos vorazes, em que um menino e uma menina de cada localidade é escolhido para se enfrentar em uma arena, de onde somente um deles sairá vivo. Katniss, a personagem principal, oferece-se no lugar da irmã caçula para enfrentar os jogos.  Sem dúvida, uma das melhores partes do livro é o caráter da personagem Katniss, em primeiro lugar, ela não é uma menina comum. Katniss sempre sustentou sua casa e não é novidade para ela enfrentar obstáculos, além da coragem, a personagem, com pouco mais de dezesseis anos, faz uma reflexão implacável da sociedade. Esse fator sozinho já faria a história notável, entretanto, além da crítica contundente das pessoas e os valores vigentes, ela ainda se vê divida entre o amor do seu melhor amigo  e do seu par nos jogos, Peeta. O que o leitor agradece porque é a única hora que não está sufocado pela pergunta “Qual o próximo desafio?”. Este livro traz, inclusive, muitas cenas de ação e exige um leitor que as imagine à altura. É uma história para quem gosta de pensar.
      A autora, Suzanne Collins, tal qual John Green, caprichou no delineamento da personalidade de cada personagem, eles não são adolescentes bobos  e estereotipados, muito pelo contrário, caminham longe do lugar-comum e hora nenhuma se tornam clichês.  Collins não perdeu o foco na narrativa e não teve pena dos personagens, embora seja uma história de ficção, o sofrimento é palpável. Ela também não teve dó do leitor, sua proposta não era só contar uma historinha romântica, mas mostrar o preço pago quando se assume responsabilidades. Para quem não leu o livro, o que eu aconselho fazer porque é uma ótima leitura, os filmes estão excelentes e bastante fiéis à obra escrita. O clima tenso é o mesmo, a sensação de encravar os dedos na cadeira pela emoção também. Todos os atores estão ótimos. Agora é esperar a adaptação para telona do último livro da trilogia Jogos Vorazes, A esperança (o trailer está disponível), cujo enredo faz qualquer um chorar, pensar e se surpreender.

terça-feira, 8 de julho de 2014

Sobre a Copa e a derrota



      Só quando ouvi o meu grito “Vai, Brasil” no primeiro jogo, percebi o quanto estava torcendo, não só pela seleção, mas pelo que ela representa. Sinceramente, nunca fui fã de futebol, não sei ainda a diferença de impedimento para tiro de meta, continuo sem saber o que é um jogador volante. Atacante, sei o que é. Antes que alguém pense que não, conheço e concordo com as manifestações que houve no Brasil, antes da Copa e as que ainda virão. Entretanto, dizer que a copa foi comprada (o que provou-se mentira), sempre achei meio forçado. Quando me entristeci pela coça que a Alemanha deu no Brasil, não foi pelo futebol, mas pelo que ele representa para o povo brasileiro. Se observarmos com cuidado, o brasileiro não tem nada, exceto o bom futebol. Esportes não tem nada a ver comigo, entretanto consigo entender a alegria que o futebol proporciona/proporcionou para gente. Fui contagiada pela felicidade grátis que tivemos nesse mês. Assim, quando ouvia o grito “Vai, Brasil!”, gostava de pensar que era pela nosso Brasilzão, não só pelo futebol. Também acho que o brasileiro deve aprender a votar, exigir seus direitos e não só participar das manifestações para colocar fotos nas redes sociais (Penso, inclusive, que alguns brasileiros precisam protestar sem quebrar o patrimônio alheio, sem tornar as ruas campos de guerra) e sei, enquanto professora, que um vislumbre da nossa esperança está na educação, acredito nisso. Porém, ainda estou amargando a derrota do Brasil no Mineirão, antes, mesmo depois de tantas explicações, que me chamem alienada, permitam-me mais duas linhas de argumento. O futebol era tudo o que tínhamos. É triste dizer isso? É. Mas é a verdade. Acreditei que o Brasil seria hexa, queria muito (tô morrendo de dó do Júlio César). Talvez, tenha me iludido. Achava justíssimo que o Brasil ganhasse depois de todas as circunstâncias que envolveram a copa, os superfaturamentos, a má-fé dos políticos etc, etc. E contrário a todas as perspectivas, a todas as ilusões mortas, a toda desesperança que a política brasileira proporciona, eu continuo gritando “Vaaaaaaaaaaaai, Brasil!” 

segunda-feira, 7 de julho de 2014

A comercialização da fé e o surgimento da “igreja” politicamente correta


        Não é de hoje que muitas instituições religiosas ganham destaque na mídia por tocarem em assuntos que a pós-modernidade não quer mais discutir,  citando alguns: divórcio,  aborto, e o já senil métodos contraceptivos. Entretanto, a instituições religiosas cristãs, leia-se as protestantes em particular, também têm temas que são intocáveis porque entendem que não são questões doutrinárias, mas de leitura bíblica. Não é raro a sociedade secular, em suas contestações, citar o dízimo como um dos principais defeitos das religiões cristãs.
      É obvio que a igrejas, como qualquer outra instituição, têm contas a pagar e é mais do que natural que os membros contribuam para sua manutenção e também para a ajuda aos mais necessitados, uma das marcas do caráter cristão. O que a sociedade secular confunde, com toda razão, é o absurdo que algumas instituições religiosas evangélicas prometem quando insistem em pedir mais e mais dinheiro, chamado por algumas como oferta de amor, sacrifício pessoal, missões etc. Algumas dessas igrejas propoem, inclusive, que se a pessoas dobrarem sua ajuda financeira, o que chamam de ousar na fé, serão mais abençoadas, terão seus filhos libertos da droga, seus casamentos restaurados, doenças curadas, empregos com salários mais altos etc.
    Tampando os ouvidos para as críticas do secularismo, que têm um fundo de verdade, mas vem cercadas de intolerância e generalismo, muitas igrejas têm dado ao mundo um péssimo exemplo de Cristianismo e oferecido aos seus membros uma religião apenas, cuja principal tônica é: é possível comprar o favor de Deus. Em outras palavras, nas entrelinhas dessas atitudes, entende-se que é uma religião onde os membros são clientes e, como a máxima popular defende, o cliente sempre têm razão.
      Uma das consequências de uma fé comerciável é que seus adeptos pouco ou nada sabem do autêntico Cristianismo. Em parte alguma da Bíblia, Jesus promete uma vida de facilidades e desejos satisfeitos, porém está é a ideia que essas denominações pregam. Provavelmente, por isso que em cada esquina há uma igreja, para que o membro, ou cliente, encontre aquela que mais se identifica, isto é, aquela que mais o AGRADA.
   Os comerciantes fazem propagandas exatamente para atrair fregueses. Capacitam funcionários para que estes aprendam a tratar o cliente, pois cliente SATISFEITO retorna para comprar mais e ainda indica a loja para outras pessoas. Aqui nasce mais um dano desse tipo de instituição religiosa que tem “milagres” para vender; ela não se preocupa com o que a Bíblia diz, ela não ensina ao povo como um cristão verdadeiro deve se comportar. Pelo contrário, ela diz aos seus membros que Deus tem a obrigação de abençoá-lo, diz que quanto mais dinheiro “sacrificar” no altar, mais Deus fará.
     A marca da apostasia na atualidade é disseminar um Cristianismo que não forma cristãos, mas forma frequentadores de uma religião que balança na frente deles uma vida de facilidades. Essa apostasia é tão grande e está tão presente no meio evangélico que muitas pessoas não veem mais o engodo que têm comprado.  Denominações que distorcem o Cristianismo para que suas meia-verdades passem como bençãos têm feito nascer uma “igreja” politicamente correta.
    A “igreja” politicamente correta é aquela que se apropria do discurso secular e o pincela com trechos bíblicos fora de contexto, o objetivo dessa denominação não é mais fazer frente ao mundo que perece, mas é vestir uma máscara de respeitabilidade e dizer o que o cliente/membro quer ouvir. Não é de se admirar que os cantores gospel tenham, nos últimos anos, conseguido lugar até em emissoras de tv que cansam de apoiar uma moralidade relativista. Sob o versículo bíblico que virou bordão, “não julgueis para que não seja julgado”, muitos cristãos comprometidos têm abandonado igrejas evangélicas por não encontrarem lá mais do que traços do Cristianismo autêntico.
  Cabe lembrar que a Igreja Protestante nasceu como oposição à comercialização de relíquias religiosas que a Igreja Católica de então fazia, mas algumas denominações evangélicas não cansam de fazer o mesmo. Além de comercializar a fé, dar todas razão aos seus membros/clientes, a “igreja” politicamente correta financia shows, eventos, cantinas, festas gospel variadas, tudo para atrair o cliente, tudo para deixar a “religião” mais agradável aos jovens. Métodos carnais pululam dentro de algumas igrejas, fato que além de ofender a Deus, ofende aqueles que têm compromisso com Jesus Cristo.
     Nem como sistema éticos a “igreja” politicamente correta serve, porque valores cristãos também não são ensinados. O culto nada mais é do que uma forma de massagear egos, criar emocionalismo e arrecadar dinheiro. A oração e a leitura bíblica não atraem adeptos, então são deixados de lado.  É uma igreja de discursos bonitos, palavras banais, nela não existe a palavra pecado, o nascer de novo citado por Jesus Cristo nunca é levado a cabo porque as pessoas não ouvem sermões de contrição, só recebem conforto e promessas de dias melhores. Essas instituições não ensinam que o arrependimento e a salvação são os maiores milagres que um cristão recebe. Pelas mil e uma bênçãos que prometem, não é de se estranhar que o protestantismo brasileiro tenha tantos novos adeptos. Qualquer dia, as igrejas cristãs também terão seus crentes não-praticantes. Uma igreja assim não pode ser a noiva de Cristo. 

quarta-feira, 2 de julho de 2014

O livro Senhora e sua singularidade

   
     José de Alencar provavelmente ao escrever Senhora não sabia que estava compondo seu melhor livro, é claro que o Romantismo Brasileiro produziu inúmeros livros cuja leitura é bastante agradável. Para citar apenas dois, A moreninha é uma história bem escrita e a narrativa têm alguns encantos, e o livro A escrava Isaura não fica para trás, ambos  têm todos os elementos que se esperam encontrar em histórias românticas: um amor poderoso capaz de lutar contra todos os revezes da vida, um personagem masculino que arranca suspiros e uma ingenuidade que os torna cativantes.
     Entretanto, o que falta neles, Senhora tem a ponto de sobejar, a intensidade tão própria do Romantismo. Alencar caprichou nesse livro e acrescentou a ele todos os nuances de uma história marcante. Em primeiro lugar, tantas qualidades se deve ao minucioso trabalho do autor para compor Aurélia cuja têmpera excede a praticamente todas as outras protagonistas de livros do Roamantismo. Aurélia sofre várias mudanças no decorrer da história, de moça pobre se torna elegante e vingativa, tudo isso porque não conseguia perdoar o homem que a trocou por outra. A personagem segue uma linha dramática cujo enredo oscila entre um amor traído e uma vingança justa. 
    Além de Aurélia, Fernando Seixas é ao mesmo tempo o herói da história  e vilão. É herói porque se deixa mudar pelo amor de Aurélia e é vilão porque ousou trocar amor verdadeiro por dinheiro. Seixas segue uma trajetória particular e se torna cativante à medida que reavalia sua conduta e, após o casamento, exposto a um "amor implacável' vê-se obrigado a resgatar sua dignidade. É por causa de Aurélia que ele se refaz, só esse fato o torna inesquecível para quem o compara com outros personagens masculinos.
     Mais um mérito de José de Alencar, além da bela história que conta, são os momentos em que Aurélia e Seixas discutem, os diálogos são muito bem construídos e o exagero tipico do Romantismo alcança suas maiores notas nesses momentos. Uma dessas cenas, que é uma das mais famosas da literatura brasileira, é a da noite de núpcias quando Aurélia conta a Seixas que o comprou.
     Também é do livro Senhora que surge belas citações em que Alencar, através de Aurélia, delineia a alma do Romantismo: "Amava seu amor mais do que o amante, era mais poeta do que mulher" e Não se assassina assim um coração que Deus criou para amar, incutindo nele a vingança e o ódio."
     Algumas pessoas criticam o Romantismo, bem como José de Alencar, por sua mania de escrever descrições desnecessárias, por exemplo, quando o escritor esmiúça os trajes e os ambientes com riqueza de detalhes; fazendo o mesmo com a s emoções e sentimentos das personagens não deixando para o leitor tirar conclusões e fazer seus julgamentos. Outra crítica é que livros desse tipo são óbvios demais, o final será feliz aconteça o que acontecer. Senhora também tem todas as características que são objetos de crítica, mas o que o torna diferente de seus pares é sua capacidade de convencer. Não tem como não se identificar com Aurélia e as exigências nascidas de seus sentimentos magoados. 

      A cena da noite de núpcias representada na novela Essas mulheres:

  

terça-feira, 1 de julho de 2014

Orgulho e Preconceito: um romance sem retoques


      Toda leitora ou leitor de romances não pode se beneficiar desse título até ter lido o livro Orgulho e preconceito da escritora inglesa Jane Austen. Embora o filme homônimo(na versão legendada) nada deixe a desejar em comparação com a obra escrita, a supremacia da narrativa de Austen não é algo que possa ser imitado em pouco mais de duas horas.
       Elizabeth ou apenas Lizzie, a personagem central da história, é moça voluntariosa, ávida leitora e de bastante opinião para a sociedade paternalista do século XVIII, segunda filha de um casal que tem como herdeiras cinco meninas. A mãe de Lizzie passa boa parte da história desesperada porque quer casar as filhas o mais depressa possível, uma vez que, na sociedade daquela época, não admitia às mulheres receberem a herança do pai, passando, portanto, os bens ao parente do sexo masculino mais próximo. Lizzie conhece em um baile Mr. Darcy, merecedor de um parágrafo só seu para melhor analisá-lo, que se mostra muito orgulhoso e esnobe, e é também riquíssimo.
      Como herói romântico, o maravilhoso Darcy, até hoje inspira a construção de personagens masculinos de livros de romance. Ele não é um personagem óbvio, as reações dele nunca são previsíveis. Quando se começa a ler a história, é Bingley que cativa mais admiração. Entretanto, ao longo da narrativa, Darcy apaga Bingley, a austeridade dele aliada a opiniões fortes é que conserta o mundo de Lizzie. Ela e praticamente todas as personagens femininas não o consideram tão bom partido, exceto pelo seu dinheiro, quanto os outros personagens masculinos, é a sisudez de Darcy que o torna tão apaixonante. Ele não é o típico mocinho, Darcy é turrão, exigente e difícil de dobrar, além, claro, de homem de palavra e decisão; qualidades que o engrandecem diante de heróis românticos de outras histórias.
      O modo como Jane Austen estruturou a narrativa em Orgulho e preconceito é digno de ser mencionado milhões de vezes. Começando com o título e a alusão que faz a história.  Lizzie e Darcy dividem os dois sentimentos ao longo da narrativa e ora agem movidos pelos dois. Darcy é preconceituoso quando não aceita o modo de ser da família de Lizzie, julgando-a apenas pelas ações da mãe e, em determinado momento, é seu julgamento falho que ajuda a afastar a irmã mais velha de Lizzie, Jane, do melhor amigo dele, Mr. Bingle. Outro ponto alto de Orgulho e preconceito é quando Lizzie não aceita o arremedo de proposta de casamento que Darcy faz porque esbarra no orgulho dela. Ao pedi-la para se casar com ele, Darcy ressalta a ausência de um sobrenome importante e a família peculiar que a jovem possui.
   A singularidade de Orgulho e preconceito também está em como os personagens secundários e suas respectivas histórias contribuem para contar a história do casal principal. É um livro sem pontas soltas. Cabe ressaltar, inclusive, que a graça da história também está em como, ao contrário do que acontece em muitos livros de romance, o amor do casal principal vai nascendo aos poucos, sendo estruturado junto com a narrativa.

     Orgulho e preconceito é um dos principais livros do gênero e é um livro inesquecível, tudo que se espera de uma história de amor está nele. É um livro que não fica devendo em nada e não precisa de nenhum retoque por isso é um clássico.