Resenha - Amor Líquido, Zygmunt Bauman
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Se
fosse perguntado a vários leitores: "Qual livro marcou sua
vida?", provavelmente responderiam livros que leram na infância, livros
que de alguma forma os tocaram em momentos especiais de sua vida, isto é,
livros que tiveram a habilidade de dizerem aquilo que seus corações, de alguma
maneira, precisavam ouvir. Sem dúvida, quem ler Amor Líquido - sobre a
fragilidade dos laços humanos do sociólogo norueguês Zygmunt Bauman, antes de
terminá-lo, o considerará uma das melhores obras escritas que já teve em mãos.
Isso graças a alguns fatores que singularizam Amor Líquido diante de outras
estudos excelentes.
Uma das qualidades de Amor
Líquido nasce diretamente do seu autor, porque Zygmunt Bauman é um
pensador que com inteligência arguta somada a alguns anos a mais de vida, o
transfere da importante teoria para vivência. Muito da sabedoria impressa neste
livro é oriunda da observação de alguém que viu a sociedade embarcar de moda em
moda, sob este viés Amor Líquido tem quase um argumento testemunhal.
Bauman apresenta um tratado da mentalidade em vigência no mundo atual, mostrando
os passos que levaram a sociedade contemporânea a ser quem é. Também neste livro Bauman insiste no seu
assunto assunto preferido: a liquidez do mundo moderno, só que nessa obra, ele
faz uma descrição dos relacionamentos e da sociedade de consumo. Bauman,
inclusive, explica como o amor/relacionamentos foram transformados por um mundo
onde tudo, tudo mesmo, se torna obsoleto de um dia para o outro. Em Amor
Líquido, que é recomendado até a um leitor iniciante, o autor argumenta capítulo
a capítulo que os laços humanos estão em processo de mercantilização, isto é, a
mentalidade de substituição dos objetos de consumo também está a serviço dos
relacionamentos amorosos. O que torna Amor Líquido singular, além do que
foi dito acima, é como a fluidez da modernidade, aludida em outras obras de Bauman,
faz que as expectativas sejam de curta duração, uma vez que tudo muda o tempo
todo na sociedade de consumo. Assim, os laços humanos não são feitos para
durarem, esta não é a intenção deles, a intenção é simplesmente estar até que
não se queira mais; são relacionamentos realizados de baixo de uma expectativa
de morte certa, porque, na verdade, eles são bons enquanto não existe um melhor
em perspectiva, quando houver, será descartado sem nenhuma dor.
Interessante observar que o que Bauman chama de amor é, para algumas
pessoas, paixão. Provavelmente, é o que alguns românticos de plantão
entenderão, entretanto o autor não faz esta distinção, pelo contrário, ele
está falando do amor mesmo.
Ler Amor Líquido fará o leitor entender como
a contemporaneidade é firmada sob a égide de uma fluidez onde, como castelos de
areia à beira-mar, nada é feito para durar, inclusive o amor.
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