segunda-feira, 30 de junho de 2014

Resenha - Amor Líquido, Zygmunt Bauman

   

      Se fosse perguntado a vários leitores: "Qual livro marcou sua vida?", provavelmente responderiam livros que leram na infância, livros que de alguma forma os tocaram em momentos especiais de sua vida, isto é, livros que tiveram a habilidade de dizerem aquilo que seus corações, de alguma maneira, precisavam ouvir. Sem dúvida, quem ler Amor Líquido - sobre a fragilidade dos laços humanos do sociólogo norueguês Zygmunt Bauman, antes de terminá-lo, o considerará uma das melhores obras escritas que já teve em mãos. Isso graças a alguns fatores que singularizam Amor Líquido diante de outras estudos excelentes.
    Uma das qualidades de Amor Líquido nasce diretamente do seu autor,  porque Zygmunt Bauman é um pensador que com inteligência arguta somada a alguns anos a mais de vida, o transfere da importante teoria para vivência. Muito da sabedoria impressa neste livro é oriunda da observação de alguém que viu a sociedade embarcar de moda em moda, sob este viés Amor Líquido  tem quase um argumento testemunhal. Bauman apresenta um tratado da mentalidade em vigência no mundo atual, mostrando os passos que levaram a sociedade contemporânea a ser quem é.     Também neste livro Bauman insiste no seu assunto assunto preferido: a liquidez do mundo moderno, só que nessa obra, ele faz uma descrição dos relacionamentos e da sociedade de consumo. Bauman, inclusive, explica como o amor/relacionamentos foram transformados por um mundo onde tudo, tudo mesmo, se torna obsoleto de um dia para o outro. Em Amor Líquido, que é recomendado até a um leitor iniciante, o autor argumenta capítulo a capítulo que os laços humanos estão em processo de mercantilização, isto é, a mentalidade de substituição dos objetos de consumo também está a serviço dos relacionamentos amorosos.     O que torna Amor Líquido singular, além do que foi dito acima, é como a fluidez da modernidade, aludida em outras obras de Bauman, faz que as expectativas sejam de curta duração, uma vez que tudo muda o tempo todo na sociedade de consumo. Assim, os laços humanos não são feitos para durarem, esta não é a intenção deles, a intenção é simplesmente estar até que não se queira mais; são relacionamentos realizados de baixo de uma expectativa de morte certa, porque, na verdade, eles são bons enquanto não existe um melhor em perspectiva, quando houver, será descartado sem nenhuma dor.
     Interessante observar que o que Bauman chama de amor é, para algumas pessoas, paixão. Provavelmente, é o que alguns românticos de plantão entenderão, entretanto o autor não faz esta distinção, pelo contrário, ele está falando do amor mesmo.
      Ler Amor Líquido fará o leitor entender como a contemporaneidade é firmada sob a égide de uma fluidez onde, como castelos de areia à beira-mar, nada é feito para durar, inclusive o amor.

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