segunda-feira, 30 de junho de 2014
Resenha - Amor Líquido, Zygmunt Bauman
Se
fosse perguntado a vários leitores: "Qual livro marcou sua
vida?", provavelmente responderiam livros que leram na infância, livros
que de alguma forma os tocaram em momentos especiais de sua vida, isto é,
livros que tiveram a habilidade de dizerem aquilo que seus corações, de alguma
maneira, precisavam ouvir. Sem dúvida, quem ler Amor Líquido - sobre a
fragilidade dos laços humanos do sociólogo norueguês Zygmunt Bauman, antes de
terminá-lo, o considerará uma das melhores obras escritas que já teve em mãos.
Isso graças a alguns fatores que singularizam Amor Líquido diante de outras
estudos excelentes.
sábado, 28 de junho de 2014
Por que todas as mulheres devem ler Clarice Lispector?
Apesar dos anos passados desde que Clarice Lispector escreveu seu último texto, a presença dela continua constante graças ao frisson de suas frases nas redes sociais. Muitas pessoas postam as citações dela sem ao menos ter lido um texto inteiro desta maravilhosa escritora.
Claro que na internet há muitos textos atribuídos à Clarice e a outros autores famosos que não são deles, talvez este seja o preço do sucesso. De qualquer forma, aqueles que só conhecem Clarice por intermédio de suas citações está perdendo um universo de doçura e beleza, pois todos os seus escritos, em especial os contos, trazem tantas particularidades da alma humana captadas pela sensibilidade clariceana.
Todos deveriam ler Clarice Lispector, senão os romances que exigem um leitor muito amadurecido, pelo menos os contos e as crônicas cuja interpretação é mais simples, convém não confundir simplicidade com facilidade. Se todos não lerão Clarice, é premente que todas as mulheres, de todas as idades (ela escreveu também livros infantis!!!!) a leiam.
Todas as mulheres deveriam ler Clarice, em primeiro lugar, porque encontrará um rápido acesso às emoções mais profundas. Através da pena lispectoriana, até uma leitora iniciante, se sentirá tocada pelo sentimento transcrito nas entrelinhas de cada conto, cada crônica. Portanto, mulheres, vocês devem ler Clarice para caminhar na estrada da sua sensibilidade. Nos textos dela, alcançará a compreensão da menina que um dia foi e da mulher que será ou é.
Outro bom motivo para ler Clarice é uma razão quase psicológica. Quem já fez terapia sabe que uma forma de melhora é nomear o que sente. Através dos textos de Clarice é possível se autoanalisar, por intermédio das personagens dos contos, e nas crônicas, pelo depoimento da mulher atrás da autora; e dar nome às emoções que ora estão à flor da pela ora estão adormecidas. Ressaltando ainda a excelente capacidade de Clarice em colocar seus personagens a uma jornada interior levando-os a uma epifania, isto é, perceber suas mais intrincadas emoções. O entendimento do personagem leva a leitora a uma catarse (de forma vicária). Uma das maravilhas da leituras é colocar o leitor(a) para viver outra vida, percorrendo um caminho que pode vir a ser o seu.
Todas as mulheres deveriam ler Clarice pelos mesmo motivos que gostam de ganhar flores: porque são bonitas, delicadas e transformam o dia e porque é bom ser lembrada. Quando se lê Clarice, percebe-se como ela limou o textos até compô-lo com palavras perfeitas, nada no texto dela é acidental, transparece na leitura que ela calculou tudo para dar ao leitor(a) a possibilidade de se comover, de sentir. Não é raro ao se debruçar em um texto dela e se ver dizendo: "É assim que eu me sinto, é assim que me sentia..."
A leitora de Clarice logo percebe que seus sentimentos são de mulheres de várias gerações e que a tecnologia mudou, mas a alma ainda é a mesma, os anseios são os mesmos, os medos são os mesmos.
Toda mulher deve ler Clarice Lispector porque é muito bom ter uma amiga que te entende.
Que tal começar agora?
O milagre das folhas
Não, nunca me acontecem milagres. Ouço falar, e às vezes isso me
basta como esperança. Mas também me revolta: por que não a mim? Por que
são de ouvir falar? Pois já cheguei a ouvir conversas assim, sobre
milagres: “Avisou-me que, ao ser dita determinada palavra, um objeto de
estimação se quebraria.” Meus objetos se quebram banalmente e pelas
mãos das empregadas. Até que fui obrigada a chegar à conclusão de que
sou daqueles que rolam pedras durante séculos, e não daqueles para os
quais os seixos já vêm prontos, polidos e brancos. Bem que tenho visões
fugitivas antes de adormecer – seria milagre? Mas já me foi
tranquilamente explicado que isso até nome tem: cidetismo, capacidade de
projetar no campo alucinatório as imagens inconscientes.
Milagre, não. Mas as coincidências. Vivo de coincidências, vivo
de linhas que incidem uma na outra e se cruzam e no cruzamento formam um
leve e instantâneo ponto, tão leve e instantâneo que mais é feito de
pudor e segredo: mal eu falasse nele, já estaria falando em nada.
Mas tenho um milagre, sim. O milagre das folhas. Estou andando
pela rua e do vento me cai uma folha exatamente nos cabelos. A
incidência da linha de milhares de folhas transformadas em uma única, e
de milhões de pessoas a incidência de reduzí--las a mim. Isso me
acontece tantas vezes que passei a me considerar modestamente a
escolhida das folhas. Com gestos furtivos tiro a folha dos cabelos e
guardo-a na bolsa, como o mais diminuto diamante. Até que um dia, abrindo a bolsa,
encontro entre os objetos a folha seca, engelhada, morta. Jogo-a fora:
não me interessa fetiche morto como lembrança. E também porque sei que
novas folhas coincidirão comigo.
Um dia uma folha me bateu nos cílios. Achei Deus de uma grande delicadeza.
Clarice Lispector
quinta-feira, 26 de junho de 2014
Um porto seguro (Nicholas Sparks): o livro e o filme - SPOILER
Um porto seguro (Nicholas Sparks): o livro e o filme - SPOILER
Quem gosta de ler
romances está sempre atenta às produções de Nicholas Sparks. Os livros dele, no
momento, são os melhores do gênero, uma vez que, na maioria das vezes, ele cumpre
a missão a que se propõe: contar uma bela história de amor, e não tornar a
história ao passar das páginas, como vem pululando no mercado editorial
ultimamente, mera narrativa erótica.
Perdendo somente
para os excelentes Um amor para recordar e Diário de uma paixão, Um porto seguro
conta a história de uma jovem mulher que ao se casar descobre que seu marido é
autoritário e possessivo e aos poucos vê-se destituída da sua personalidade,
tornando-se cativa em sua própria casa. Aos poucos, ela toma coragem é consegue
fugir, muda de nome e de cidade. Entretanto, o marido possessivo, mesmo passado
bastante tempo, continua a procurá-la.
Nesse livro,
Sparks alcança novos patamares, pois a história não é linear e o narrador é
imprevisível quanto ao que contará de cada uma das personagens. Embora o
conceito da história seja o mesmo, isto é, mulher encontra homem que a ajuda a
resolver seus problemas, a forma que a narrativa é contada é apaixonante, e
acaba cativando o leitor. O viúvo Alex, por exemplo, é muito bem delineado e
sua personalidade faz com que o livro ganhe pontos extras, porque ele também
precisa ser salvo. Alex também precisa deixar o passado para trás, como Katie,
a mulher que fugiu do marido agressor. Outro ponto positivo é que Alex é
fascinante, beira a um Mr, Darcy moderno.
Infelizmente, não
se pode dizer o mesmo do filme. É mais uma daquelas produções cinematográficas
que não conseguem capturar a história e só é agradável para quem não leu o
livro e não se apaixonou por ele. Os atores do filme não formaram um belo casal
e o ator que corporifica Alex, embora bonito, não convence.
Voltando ao livro,
Um porto seguro é uma das histórias de Sparks mais bem contada, porém o final é
um tanto discutível, beirando ao estranho porque traz à baila assuntos
metafísicos que não acrescentam nada à narrativa. Ao término da história, o
leitor, depois de receber várias pistas sobre o assunto, (não) se surpreende ao
saber que a amiga que Katie fez é na verdade o espírito da mulher do Alex.
Provavelmente, Sparks acrescentou à narrativa esse detalhe (!!!!) para
intensificar a crença de que existe uma força regendo o encontro de mulheres e
homens. Se o leitor consegue perdoar esse deslize, concordará que a história é
muito boa e cria suspiros até a última página.
segunda-feira, 23 de junho de 2014
Nicholas Sparks e os romances água-com-açúcar
Nicholas Sparks e os romances água-com-açúcar
Nicholas
Sparks é conhecido mundialmente por seus livros românticos, que muita gente
chama de romance água-com-açúcar por girarem sempre em torno da temática
encontrar o amor verdadeiro. Os livros de Sparks, invariavelmente, recebem
muita notoriedade e encabeçam a lista dos mais vendidos. Obviamente que tanto sucesso
atraí críticas com tons depreciativos.
Muitos leitores consideram esse tipo de livro
como subliteratura, e acaba sendo mesmo, porque o comparam com Machado de Assis
e Jane Austen. Os fãs de Nicholas Sparks não esperam que os romances dele sejam
mais do que são, ou seja, entreterimento, passatempo e diversão.
Outra crítica que os água-com-açúcar
recebem é que seguem a mesma fórmula: mulher/menina pobre/problemática conhece
homem/rapaz rico e bonito e tem sua vida mudada por ele, mudada para melhor é
preciso ressaltar. Em alguns casos, por exemplo, no excelente Um porto seguro
escrito por Nicholas Sparks, o “herói” da história precisava encontrar a
protagonista para ter suas feridas cicatrizadas por ela. Nessas histórias, o
personagem principal é sempre o amor verdadeiro que atua como fio condutor em
que a narrativa se desenrola.
Cabe lembrar que os romances água-com-açúcar
têm um passado antigo (lembrem-se de José de Alencar e o Romantismo no Brasil)
e, sem duvida, reverbera até a pós-modernidade fortalecidos também pelos livretos
Sabrina, Bianca e Júlia que até hoje atraem um público considerável.
É preciso, entretanto, fazer uma separação entre os livros escritos por Sparks (e outros semelhantes) com um outro tipo de romance que têm aparecido na lista dos mais vendidos: os romances água-com-açúcar não incluem livros que seguem a linha Cinquenta tons de cinza, cujo argumento principal é contar uma história erótica que para se sustentar pincela a narrativa com algum romance. O intuito das narrativas românticas é contar uma história de amor e não aventuras sexuais. Óbvio que histórias assim atraem algum público, mas não estão inseridas na defesa que aqui se faz.
É preciso, entretanto, fazer uma separação entre os livros escritos por Sparks (e outros semelhantes) com um outro tipo de romance que têm aparecido na lista dos mais vendidos: os romances água-com-açúcar não incluem livros que seguem a linha Cinquenta tons de cinza, cujo argumento principal é contar uma história erótica que para se sustentar pincela a narrativa com algum romance. O intuito das narrativas românticas é contar uma história de amor e não aventuras sexuais. Óbvio que histórias assim atraem algum público, mas não estão inseridas na defesa que aqui se faz.
Algumas mulheres leitoras não gostam de livros românticos porque
encontram neles um discurso paternalista. Elas percebem que a mensagem
subliminar dessas narrativas é que a mulher está incompleta até achar um homem.
Esse argumento merece especial atenção porque tem alguma verdade. Entretanto,
as leitoras dos romances água-com-açúcar gostam dessa leitura exatamente pela
fantasia que proporcionam. Como todo leitor sabe, o papel da ficção é levar o
leitor a lugares improváveis, a mundos só admissíveis na imaginação. Claro que
nenhuma leitora razoável vai tomar a história para si e fazer dela objetivo de
vida. Esses romancezinhos de fórmula pronta, com um belo felizes para sempre
como desfecho, nada mais são do que um escape das labutas diárias, é uma
maneira da leitora, se adulta, se conectar à adolescente de outrora e seus
devaneios com o príncipe encantado; se é jovem, hora oportuna para deixar-se
suspirar por um futuro romântico.
Não existe perigo nas leituras dos livros de
Nicholas Sparks ou em qualquer outro do gênero, quando os lê, a leitora é a
dama a ser salva; quando fecha o livro, retorna ao seu lugar de direito, que
nem chegou a esfriar na sua ausência, e ela volta a ser politizada, mãe,
professora, advogada, médica, motorista etc. É só uma forma de dar uma pausa na
vida.
sexta-feira, 20 de junho de 2014
A culpa é das estrelas - livro e o filme (SPOILER)
Sem dúvida, o grande mérito de John Green ao escrever o livro A Culpa é
das estrelas é não tratar o adolescente como bobo, oferecendo uma
narrativa em que o jovem é estereotipado e só se interessa por bebidas e
baladas (como a Talita Rebolças faz). Green não subestimou a capacidade
intelectual do jovem leitor mostrando apenas o cotidiano e dramas típicos
da puberdade. Só nisso, ele faz jus a todo o seu sucesso. Obviamente, pululam no cinema histórias de amores interrompidos por doenças, cabe
lembrar do médio Love Story e do excelente Um amor para recordar.
Entretanto, a peculiaridade de A culpa é das estrelas é apresentar uma
narrativa baseada em problemas verossímeis, em uma época em que está na
moda histórias fantásticas (vampiros, zumbis, bruxos etc). Quanto ao
filme, não ficou devendo nada ao livro. O diretor conseguiu imprimir à
versão cinematográfica toda a intensidade do livro. Está tudo lá: a
pureza, a doçura, a delicadeza e o carisma da escrita. E falando em
carisma, cabe ressaltar a simpatia do jovem ator que corporificou o
charmoso Gus. A câmera ama esse garoto, ele não tem a beleza que sempre
se vê em filmes desse gênero, porém está tão à vontade no papel que
quando ele sorri, leva o público a rir junto e acontece o mesmo quando
chora. Sendo leitora assídua de literatura e de leitura para
entreterimento (como chamo livros desse tipo), fiquei satisfeita com a
adaptação para telona. Vi gente (adulta) chorando para valer, não chorei
porque já tinha chorado o suficiente quando li o livro (rs). O livro
pode ter se tornado modinha, mas é uma modinha que vale a pena porque
está repleto de referências literárias importantes que só leitores
razoáveis conseguem entender; outro ponto a favor do livro é que as
metáforas presentes nele precisam ser ruminadas para serem
compreendidas. Enquanto professora fico satisfeita quando um livro está
na moda, pois tenho sempre a esperança de que os meus alunos se tornem
leitores tendo esse tipo de livro como pontapé inicial. Sem mais, cabe
lembrar: "O mundo não é uma fábrica de realização de desejos." O.K?
C.S.Lewis - vida e obra
C.S.Lewis: vida e obra
Clive Staples Lewis ( 1898 –1963 ), C.S.Lewis
ou simplesmente Jack, ficou conhecido mundialmente por ter escrito o livro As
crônicas de Nárnia, cujas versões cinematográficas atraíram milhares de pessoas
às salas de cinema. O que poucas pessoas sabem é que Lewis escreveu inúmeros
livros sobre o Cristianismo.
Um dos grandes méritos desse autor
ímpar foi explicar a teologia de forma que até pessoas leigas (ele mesmo se
julgava um leigo em matéria de Cristianismo) compreendiam com facilidade. A própria
vida de C.S.Lewis é um testemunho de fé, em boa parte dela, ele foi ateu e
próximo dos trinta anos se converteu.
Em seu excelente livro autobiográfico,
Surpreendido pela alegria, Lewis conta o quanto foi difícil se dobrar ao
Cristianismo. O seu apurado racionalismo o levou, em primeiro lugar, a admitir
a existência de Deus, depois, aprendendo mais e conversando com amigos
cristãos, reconheceu que a história bíblica é um mito que realmente aconteceu.
Vários fatores levaram Lewis
à conversão: ele era um homem
extremamente culto e de grande capacidade de leitura e escrita, mas outro ponto
forte de sua personalidade era autoanálise, dessa forma percebeu que algo dentro dele clamava. Por várias vezes, mesmo
na infância, percebeu em si um sentimento que não conseguia entender
completamente, um anseio intenso e ao mesmo tempo fugaz, ele chamou de Alegria.
Jack tinha vários amigos cristãos, lia poesia de autores cristãos e ambos
fatores o levaram a reavaliar sua descrença, ele não era o tipo de homem que
fugia de grandes questões, gostava de encará-las e foi dessa forma que começou
a procurar uma resposta para o que sentia. Paulatinamente, começou a
compreender suas emoções e elas começaram a se encaixar à medida que se
aproximava de Deus. Percebeu, então, que a Alegria era um desejo por algo que
nada na terra poderia satisfazer.
Convertido, C.S.Lewis colocou toda a sua
capacidade analítica e literária ao estudo do Cristianismo. Durante a Segunda
Guerra Mundial foi convidado para falar sobre o Cristianismo em uma rádio, ele aceitou o desafio mesmo sabendo que a
pergunta que os corações dos ingleses faziam sem parar era “Onde está Deus?”.
Mais tarde, Lewis reuniu todas essas palestras e as compilou em um livro
chamado Cristianismo Puro e Simples, até hoje uma das obras mais conhecidas
desse gênio. Obviamente, ele não parou por ai, escreveu outras obras que são
referência para qualquer um que queira entender um pouco de teologia. Outro
livro que precisa ser citado é a fantástica obra chamada O problema do
sofrimento, nesta, Lewis tenta esclarecer outra pergunta que tanto o incrédulo
quanto o cristão fazem: “Se existe um Deus amoroso por que existe o sofrimento?”
C.S.Lewis também era professor de literatura e
lecionava em Oxford, ele era irlandês, entretanto boa parte da sua vida viveu
na Inglaterra. Foi lá, inclusive, que sua esposa americana o conquistou.
Coincidentemente, o segundo nome dela era Joy (que significa alegria em
inglês). Algum tempo depois de casados, Lewis já na casa dos sessenta anos, descobriu
que Joy padecia de câncer nos ossos, ambos oraram ardentemente para que
recebessem o milagre da cura. Durante mais ou menos dois anos a doença regrediu
e os dois foram realizar o sonho de conhecer a Grécia. Mas a doença voltou com
força total levando Joy à morte. C.S.Lewis, o gigante intelectual do século XX,
sucumbiu à dor e para dar vazão a ela escreveu um pequeno diário que depois foi
publicado sob um pseudônimo, chamado A anatomia de uma dor. O interessante
neste livro é que na hora do sofrimento nenhum cristão está isento de
questionar a Deus a respeito da dor, nem mesmo C.S.Lewis que é dono da famosa frase “A dor é o
megafone de Deus para despertar um mundo surdo.”, originária do livro O
problema do sofrimento.
Lewis, embora tenha conquistado muitos leitores,
na sua universidade não foi reconhecido em vida, porque na sociedade da época o
tipo de literatura que fazia não era levada em consideração. Porém a
importância dele reverbera até os dias de hoje, levando outras pessoas a
conhecerem e se aprofundarem no Cristianismo.
terça-feira, 17 de junho de 2014
Não precisa
procurar muito, é só ligar a tv ou passear pelas redes sociais, sem dúvida, a palavra
mais mencionada é AMOR. Não se passa um só dia sem falar nele, pensar nele,
evocá-lo em situações diversas. O amor é o sentimento mais almejado, quem não o
tem, está sempre à procura dele. Ele é cantado por poetas e cantores, analisado
por filósofos, debatido em uma roda de amigos no fim de semana e o assunto
principal das novelas, de vários filmes de bilheterias de sucesso. Sua ausência é o motivo do caos no mundo, não
é raro alguém dizer, ao témino de uma notícia horripilante da tv: “ Isso é
falta de amor ao próximo!”. O amor é o sentimento mais belo, Luther King em um
dos seus sermões, citou e explicou as facetas do amor: ágape, eros, fhilos,
para tentar aplacar o ódio dos racistas.
Por ser tão
popular, o amor é quase uma divindade, dizem que ele pode mudar o mundo. Até
alguém totalmente descrente acredita na suposta força motriz do amor para
estabilizar qualquer situação. O amor, como dizem, é uma força poderosa.
Entretanto, muitas pessoas justificam suas ações apelando para a autoridade que
o amor tem enquanto sentimento mais
bonito. Alguns criminosos tentaram atenuar seus crimes porque agiram em nome do
amor. Pense em um cônjuge, que ao saber da traição da esposa, a espanca dizendo
que sua ação é nascida do amor que tem por ela, que assim o faz por não poder
viver sem ela. Shakespeare fez o personagem Otelo praticar semelhante ato,
quando, envenenado por calúnias, matou Desdêmona; impressionante o fato e propício
para uma reflexão literária, que o escritor não deixou dúvidas sobre a
autenticidade do amor do mouro pela jovem assassinada.
Do amor se espera
muito, não é de se estranhar que ele seja usado como desculpa para atos que
levantam questões morais. Um marido, por exemplo, justifica sua infidelidade,
dizendo que começou a amar outra mulher e que por isso abandonará seu lar, esposa
e filhos, uma vez que não tem culpa de possuir tal sentimento. Uma mãe dá seu
bebê em adoção por amor. Um pai é exigente com os filhos por amor. Por amor, os
pais aceitam as escolhas erradas dos filhos. Por amor, dizem a verdade; por
amor é preciso mentir. Até que ponto o amor pode ser justificativa para todas atitudes? O amor tem
um limite?
Quando as pessoas
falam sobre o amor é como se falassem do próprio Deus, e, suas atitudes, se
feitas em nome do amor, devem ser perdoadas ou atenuadas. Porém é preciso fazer
uma distinção aqui: Deus é amor, mas o amor não é Deus. O amor não é um
sinônimo para Deus, por isso ele não pode ser um subterfúdio para qualquer ação
humana. Obviamente, Deus é amor ( 1João
1:8 ), mas Ele também é justiça,
bondade, graça, misericórdia, perdão... Comparando, uma mesa pode ser azul, mas
o azul não é uma mesa. Da mesma forma que uma mulher pode ser mãe, filha,
amiga, esposa, professora, advogada. Todas as características dela em conjunto
a definem, separadas não a formam completamente.
Dar ao amor o
status de Deus é ignorar que existem mandamentos que devem reger as ações
humanas. Uma ação não é melhor
moralmente porque o sentimento amor existe.
O amor é um sentimento bonito, mas a justiça não fica muito atrás. E o
que dizer da misericódia? Todos os outros sentimentos carregam um pouco de
amor, alguém pode objetar, mas isso não faz dele o melhor sentimento. Atribuir ao amor capacidade de justificar
pecados é anular o sacrifício de Cristo (
Fil 2:8 ). Apelar para o amor
como justificação de erros ou como crivo de atitudes é ser guiado por um
sentimento que facilmente pode ser confundido com paixão, que é passageira e
condicional.
O amor, por mais puro que seja, não é Deus.
domingo, 15 de junho de 2014
Filme O Substituto
Resenha de filme: O Substituto (SPOILER)
O Substituto na edição brasileira e em inglês Detachment
(EUA, 2011), ao observar a capa do dvd, pode-se pensar que o filme trata
exclusivamente sobre escola, professor e alunos. Entretanto essa história
surpreende. Não é mais um filme sobre o mito do professor-herói que chega sem
capa e com meia dúzia de palavras de efeito mudando a vida de todos os seus
alunos, pelo contrário, é um filme extremamente humano que com precisão
cirúrgica mostra a vida emocional de professores, alguns alunos e uma jovem
prostituída.
O professor, chamado Henry Barthes, vivido pelo ator Adrien
Brody, é uma alma machucada pela vida e carrega uma grande interrogação sobre
seu passado apenas sugerida inicialmente e depois apontada como um fato
importante para ele. Interessante observar que quem consegue arrancar-lhe o que
o atormenta é uma menina que ele “tirou” das ruas após vê-la apanhando de um
homem que recusou-se a pagá-la depois de uma relação sexual no ônibus. A jovem
conquista o amor paterno do professor.
Na sala de aula, a vida do professor Barthes não é simples,
ele é apenas um professor substituto, porém a escola em que vai trabalhar é
reconhecida como sinônimo de violência e ele precisa lidar com o caos crescente
ali, precisa gerir uma turma em ebulição; inclusive dando atenção a uma das
alunas que se sente excluída da escola, mesmo sendo a melhor aluna e a mais
promissora, em casa o pai não aceita a melancolia e o talento artístico dela. Barthes
percebe seu potencial, mas é obrigado a negligenciá-la porque tenta
constantemente não criar laços afetivos e existe a barreira, no caso instransponível,
professor-aluno. E assim, a salvação da menina escorre entre seus dedos. Ele
aprende a lição, e, no fim do filme, vai atrás da jovem que havia abrigado em
sua casa, mostrando que vence sua barreira emocional e dá uma chance a si
mesmo.
Nas redes sociais, apareceram comentários sobre esse filme
como se ele fosse mera reprodução do caos da educação, mas dizer que ele é
sobre alunos problemáticos é simplificá-lo; uma vez que as lentes das câmeras
acompanham os personagens até suas vidas privadas, apontando que a vida deles é
o maior objeto de análise, muito mais do que suas carreiras. Em determinado
ponto do filme, um dos professores que é tratado com toda indiferença pelos alunos,
ao chegar em casa, a esposa não tira os olhos da tv e o filho dá muito mais atenção
ao computador. É um filme sobre pessoas,
não sobre educação e suas particularidades.
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