segunda-feira, 30 de junho de 2014

Resenha - Amor Líquido, Zygmunt Bauman

   

      Se fosse perguntado a vários leitores: "Qual livro marcou sua vida?", provavelmente responderiam livros que leram na infância, livros que de alguma forma os tocaram em momentos especiais de sua vida, isto é, livros que tiveram a habilidade de dizerem aquilo que seus corações, de alguma maneira, precisavam ouvir. Sem dúvida, quem ler Amor Líquido - sobre a fragilidade dos laços humanos do sociólogo norueguês Zygmunt Bauman, antes de terminá-lo, o considerará uma das melhores obras escritas que já teve em mãos. Isso graças a alguns fatores que singularizam Amor Líquido diante de outras estudos excelentes.
    Uma das qualidades de Amor Líquido nasce diretamente do seu autor,  porque Zygmunt Bauman é um pensador que com inteligência arguta somada a alguns anos a mais de vida, o transfere da importante teoria para vivência. Muito da sabedoria impressa neste livro é oriunda da observação de alguém que viu a sociedade embarcar de moda em moda, sob este viés Amor Líquido  tem quase um argumento testemunhal. Bauman apresenta um tratado da mentalidade em vigência no mundo atual, mostrando os passos que levaram a sociedade contemporânea a ser quem é.     Também neste livro Bauman insiste no seu assunto assunto preferido: a liquidez do mundo moderno, só que nessa obra, ele faz uma descrição dos relacionamentos e da sociedade de consumo. Bauman, inclusive, explica como o amor/relacionamentos foram transformados por um mundo onde tudo, tudo mesmo, se torna obsoleto de um dia para o outro. Em Amor Líquido, que é recomendado até a um leitor iniciante, o autor argumenta capítulo a capítulo que os laços humanos estão em processo de mercantilização, isto é, a mentalidade de substituição dos objetos de consumo também está a serviço dos relacionamentos amorosos.     O que torna Amor Líquido singular, além do que foi dito acima, é como a fluidez da modernidade, aludida em outras obras de Bauman, faz que as expectativas sejam de curta duração, uma vez que tudo muda o tempo todo na sociedade de consumo. Assim, os laços humanos não são feitos para durarem, esta não é a intenção deles, a intenção é simplesmente estar até que não se queira mais; são relacionamentos realizados de baixo de uma expectativa de morte certa, porque, na verdade, eles são bons enquanto não existe um melhor em perspectiva, quando houver, será descartado sem nenhuma dor.
     Interessante observar que o que Bauman chama de amor é, para algumas pessoas, paixão. Provavelmente, é o que alguns românticos de plantão entenderão, entretanto o autor não faz esta distinção, pelo contrário, ele está falando do amor mesmo.
      Ler Amor Líquido fará o leitor entender como a contemporaneidade é firmada sob a égide de uma fluidez onde, como castelos de areia à beira-mar, nada é feito para durar, inclusive o amor.

sábado, 28 de junho de 2014

Por que todas as mulheres devem ler Clarice Lispector?




      Apesar dos anos passados desde que Clarice Lispector escreveu seu último texto,  a presença dela continua constante graças ao frisson de suas frases nas redes sociais. Muitas pessoas postam as citações dela sem ao menos ter lido um texto inteiro desta maravilhosa escritora.
       Claro que na internet há muitos textos atribuídos à Clarice e a outros autores famosos que não são deles, talvez este seja o preço do sucesso. De qualquer forma, aqueles que só conhecem Clarice por intermédio de suas citações está perdendo um universo de doçura e beleza, pois todos os seus escritos, em especial os contos, trazem tantas particularidades da alma humana captadas pela sensibilidade clariceana.
    Todos deveriam ler Clarice Lispector, senão os romances que exigem um leitor muito amadurecido, pelo menos os contos e as crônicas cuja interpretação é mais simples, convém não confundir simplicidade com facilidade. Se todos não lerão Clarice, é premente que todas as mulheres, de todas as idades (ela escreveu também livros infantis!!!!) a leiam.
      Todas as mulheres deveriam ler Clarice, em primeiro lugar, porque encontrará um rápido acesso às emoções mais profundas. Através da pena lispectoriana, até uma leitora iniciante, se sentirá tocada pelo sentimento transcrito nas entrelinhas de cada conto, cada crônica. Portanto, mulheres, vocês devem ler Clarice para caminhar na estrada da sua sensibilidade. Nos textos dela, alcançará a compreensão da menina que um dia foi e da mulher que será ou é. 
     Outro bom motivo para ler Clarice é uma razão quase psicológica. Quem já fez terapia sabe que uma forma de melhora é nomear o que sente. Através dos textos de Clarice é possível se autoanalisar, por intermédio das personagens dos contos, e nas crônicas, pelo depoimento da mulher atrás da autora; e dar nome às emoções que ora estão à flor da pela ora estão adormecidas. Ressaltando ainda a excelente capacidade de Clarice em colocar seus personagens a uma jornada interior levando-os a uma epifania, isto é, perceber suas mais intrincadas emoções. O entendimento do personagem leva a leitora a uma catarse (de forma vicária). Uma das maravilhas da leituras é  colocar o leitor(a) para viver outra vida, percorrendo um caminho que pode vir a ser o seu.
     Todas as mulheres deveriam ler Clarice pelos mesmo motivos que gostam de ganhar flores: porque são bonitas, delicadas e transformam o dia e porque é bom ser lembrada. Quando se lê Clarice, percebe-se como ela limou o textos até compô-lo com palavras perfeitas, nada no texto dela é acidental, transparece na leitura que ela calculou tudo para dar ao leitor(a) a possibilidade de se comover, de sentir. Não é raro ao se debruçar em um texto dela e se ver dizendo: "É assim  que eu me sinto, é assim que me sentia..."
    A leitora de Clarice logo percebe que seus sentimentos são de mulheres de várias gerações e que a tecnologia mudou, mas a alma ainda é a mesma, os anseios são os mesmos, os medos são os mesmos.
    Toda mulher deve ler Clarice Lispector porque é muito bom ter uma amiga que te entende.
  
Que tal começar agora?

O milagre das folhas
       Não, nunca me acontecem milagres. Ouço falar, e às vezes isso me basta como esperança. Mas também me revolta: por que não a mim? Por que são de ouvir falar? Pois já cheguei a ouvir conversas assim, sobre milagres: “Avisou-me que, ao ser dita determinada palavra, um objeto de estimação se quebraria.” Meus objetos se quebram banalmente e pelas mãos das empregadas. Até que fui obrigada a chegar à conclusão de que sou daqueles que rolam pedras durante séculos, e não daqueles para os quais os seixos já vêm prontos, polidos e brancos. Bem que tenho visões fugitivas antes de adormecer – seria milagre? Mas já me foi tranquilamente explicado que isso até nome tem: cidetismo, capacidade de projetar no campo alucinatório as imagens inconscientes.

      Milagre, não. Mas as coincidências. Vivo de coincidências, vivo de linhas que incidem uma na outra e se cruzam e no cruzamento formam um leve e instantâneo ponto, tão leve e instantâneo que mais é feito de pudor e segredo: mal eu falasse nele, já estaria falando em nada.

Mas tenho um milagre, sim. O milagre das folhas. Estou andando pela rua e do vento me cai uma folha exatamente nos cabelos. A incidência da linha de milhares de folhas transformadas em uma única, e de milhões de pessoas a incidência de reduzí--las a mim. Isso me acontece tantas vezes que passei a me considerar modestamente a escolhida das folhas. Com gestos furtivos tiro a folha dos cabelos e guardo-a na bolsa, como o mais diminuto diamante. Até que um dia, abrindo a bolsa, encontro entre os objetos a folha seca, engelhada, morta. Jogo-a fora: não me interessa fetiche morto como lembrança. E também porque sei que novas folhas coincidirão comigo.

      Um dia uma folha me bateu nos cílios. Achei Deus de uma grande delicadeza.
Clarice Lispector

quinta-feira, 26 de junho de 2014

Um porto seguro (Nicholas Sparks): o livro e o filme - SPOILER




 

Um porto seguro (Nicholas Sparks): o livro e o filme  - SPOILER

     Quem gosta de ler romances está sempre atenta às produções de Nicholas Sparks. Os livros dele, no momento, são os melhores do gênero, uma vez que, na maioria das vezes, ele cumpre a missão a que se propõe: contar uma bela história de amor, e não tornar a história ao passar das páginas, como vem pululando no mercado editorial ultimamente, mera narrativa erótica.
     Perdendo somente para os excelentes Um amor para recordar e Diário de uma paixão, Um porto seguro conta a história de uma jovem mulher que ao se casar descobre que seu marido é autoritário e possessivo e aos poucos vê-se destituída da sua personalidade, tornando-se cativa em sua própria casa. Aos poucos, ela toma coragem é consegue fugir, muda de nome e de cidade. Entretanto, o marido possessivo, mesmo passado bastante tempo, continua a procurá-la.
    Nesse livro, Sparks alcança novos patamares, pois a história não é linear e o narrador é imprevisível quanto ao que contará de cada uma das personagens. Embora o conceito da história seja o mesmo, isto é, mulher encontra homem que a ajuda a resolver seus problemas, a forma que a narrativa é contada é apaixonante, e acaba cativando o leitor. O viúvo Alex, por exemplo, é muito bem delineado e sua personalidade faz com que o livro ganhe pontos extras, porque ele também precisa ser salvo. Alex também precisa deixar o passado para trás, como Katie, a mulher que fugiu do marido agressor. Outro ponto positivo é que Alex é fascinante, beira a um Mr, Darcy moderno.
      Infelizmente, não se pode dizer o mesmo do filme. É mais uma daquelas produções cinematográficas que não conseguem capturar a história e só é agradável para quem não leu o livro e não se apaixonou por ele. Os atores do filme não formaram um belo casal e o ator que corporifica Alex, embora bonito, não convence.
    Voltando ao livro, Um porto seguro é uma das histórias de Sparks mais bem contada, porém o final é um tanto discutível, beirando ao estranho porque traz à baila assuntos metafísicos que não acrescentam nada à narrativa. Ao término da história, o leitor, depois de receber várias pistas sobre o assunto, (não) se surpreende ao saber que a amiga que Katie fez é na verdade o espírito da mulher do Alex. Provavelmente, Sparks acrescentou à narrativa esse detalhe (!!!!) para intensificar a crença de que existe uma força regendo o encontro de mulheres e homens. Se o leitor consegue perdoar esse deslize, concordará que a história é muito boa e cria suspiros até a última página.


segunda-feira, 23 de junho de 2014

Nicholas Sparks e os romances água-com-açúcar





Nicholas Sparks e os romances água-com-açúcar


      Nicholas Sparks é conhecido mundialmente por seus livros românticos, que muita gente chama de romance água-com-açúcar por girarem sempre em torno da temática encontrar o amor verdadeiro. Os livros de Sparks, invariavelmente, recebem muita notoriedade e encabeçam a lista dos mais vendidos. Obviamente que tanto sucesso atraí críticas com tons depreciativos.

      Muitos leitores consideram esse tipo de livro como subliteratura, e acaba sendo mesmo, porque o comparam com Machado de Assis e Jane Austen. Os fãs de Nicholas Sparks não esperam que os romances dele sejam mais do que são, ou seja, entreterimento, passatempo e diversão.

     Outra crítica que os água-com-açúcar recebem é que seguem a mesma fórmula: mulher/menina pobre/problemática conhece homem/rapaz rico e bonito e tem sua vida mudada por ele, mudada para melhor é preciso ressaltar. Em alguns casos, por exemplo, no excelente Um porto seguro escrito por Nicholas Sparks, o “herói” da história precisava encontrar a protagonista para ter suas feridas cicatrizadas por ela. Nessas histórias, o personagem principal é sempre o amor verdadeiro que atua como fio condutor em que a narrativa se desenrola.

      Cabe lembrar que os romances água-com-açúcar têm um passado antigo (lembrem-se de José de Alencar e o Romantismo no Brasil) e, sem duvida, reverbera até a pós-modernidade fortalecidos também pelos livretos Sabrina, Bianca e Júlia que até hoje atraem um público considerável.
      É preciso, entretanto, fazer uma separação entre os livros escritos por Sparks (e outros semelhantes) com um outro tipo de romance que têm aparecido na lista dos mais vendidos: os romances água-com-açúcar não incluem livros que seguem a linha Cinquenta tons de cinza, cujo argumento principal é contar uma história erótica que para se sustentar pincela a narrativa com algum romance. O intuito das narrativas românticas é contar uma história de amor e não aventuras sexuais. Óbvio que histórias assim atraem algum público, mas não estão inseridas na defesa que aqui se faz. 

     Algumas mulheres leitoras não gostam de livros românticos porque encontram neles um discurso paternalista. Elas percebem que a mensagem subliminar dessas narrativas é que a mulher está incompleta até achar um homem. Esse argumento merece especial atenção porque tem alguma verdade. Entretanto, as leitoras dos romances água-com-açúcar gostam dessa leitura exatamente pela fantasia que proporcionam. Como todo leitor sabe, o papel da ficção é levar o leitor a lugares improváveis, a mundos só admissíveis na imaginação. Claro que nenhuma leitora razoável vai tomar a história para si e fazer dela objetivo de vida. Esses romancezinhos de fórmula pronta, com um belo felizes para sempre como desfecho, nada mais são do que um escape das labutas diárias, é uma maneira da leitora, se adulta, se conectar à adolescente de outrora e seus devaneios com o príncipe encantado; se é jovem, hora oportuna para deixar-se suspirar por um futuro romântico.

          Não existe perigo nas leituras dos livros de Nicholas Sparks ou em qualquer outro do gênero, quando os lê, a leitora é a dama a ser salva; quando fecha o livro, retorna ao seu lugar de direito, que nem chegou a esfriar na sua ausência, e ela volta a ser politizada, mãe, professora, advogada, médica, motorista etc. É só uma forma de dar uma pausa na vida.

 

sexta-feira, 20 de junho de 2014


A culpa é das estrelas - livro e o filme (SPOILER)

Sem dúvida, o grande mérito de John Green ao escrever o livro A Culpa é das estrelas é não tratar o adolescente como bobo, oferecendo uma narrativa em que o jovem é estereotipado e só se interessa por bebidas e baladas (como a Talita Rebolças faz). Green não subestimou a capacidade intelectual do jovem leitor mostrando apenas o cotidiano e dramas típicos da puberdade. Só nisso, ele faz jus a todo o seu sucesso. Obviamente, pululam no cinema histórias de amores interrompidos por doenças, cabe lembrar do médio Love Story e do excelente Um amor para recordar. Entretanto, a peculiaridade de A culpa é das estrelas é apresentar uma narrativa baseada em problemas verossímeis, em uma época em que está na moda histórias fantásticas (vampiros, zumbis, bruxos etc). Quanto ao filme, não ficou devendo nada ao livro. O diretor conseguiu imprimir à versão cinematográfica toda a intensidade do livro. Está tudo lá: a pureza, a doçura, a delicadeza e o carisma da escrita. E falando em carisma, cabe ressaltar a simpatia do jovem ator que corporificou o charmoso Gus. A câmera ama esse garoto, ele não tem a beleza que sempre se vê em filmes desse gênero, porém está tão à vontade no papel que quando ele sorri, leva o público a rir junto e acontece o mesmo quando chora. Sendo leitora assídua de literatura e de leitura para entreterimento (como chamo livros desse tipo), fiquei satisfeita com a adaptação para telona. Vi gente (adulta) chorando para valer, não chorei porque já tinha chorado o suficiente quando li o livro (rs). O livro pode ter se tornado modinha, mas é uma modinha que vale a pena porque está repleto de referências literárias importantes que só leitores razoáveis conseguem entender; outro ponto a favor do livro é que as metáforas presentes nele precisam ser ruminadas para serem compreendidas. Enquanto professora fico satisfeita quando um livro está na moda, pois tenho sempre a esperança de que os meus alunos se tornem leitores tendo esse tipo de livro como pontapé inicial. Sem mais, cabe lembrar: "O mundo não é uma fábrica de realização de desejos." O.K?

C.S.Lewis - vida e obra




 C.S.Lewis: vida e obra
        Clive Staples Lewis ( 1898 –1963 ), C.S.Lewis ou simplesmente Jack, ficou conhecido mundialmente por ter escrito o livro As crônicas de Nárnia, cujas versões cinematográficas atraíram milhares de pessoas às salas de cinema. O que poucas pessoas sabem é que Lewis escreveu inúmeros livros sobre o Cristianismo.
      Um dos grandes méritos desse autor ímpar foi explicar a teologia de forma que até pessoas leigas (ele mesmo se julgava um leigo em matéria de Cristianismo) compreendiam com facilidade. A própria vida de C.S.Lewis é um testemunho de fé, em boa parte dela, ele foi ateu e próximo dos trinta anos se converteu.
        Em seu excelente livro autobiográfico, Surpreendido pela alegria, Lewis conta o quanto foi difícil se dobrar ao Cristianismo. O seu apurado racionalismo o levou, em primeiro lugar, a admitir a existência de Deus, depois, aprendendo mais e conversando com amigos cristãos, reconheceu que a história bíblica é um mito que realmente aconteceu.
        Vários fatores  levaram Lewis  à conversão: ele  era um homem extremamente culto e de grande capacidade de leitura e escrita, mas outro ponto forte de sua personalidade era autoanálise, dessa forma percebeu que algo dentro dele clamava. Por várias vezes, mesmo na infância, percebeu em si um sentimento que não conseguia entender completamente, um anseio intenso e ao mesmo tempo fugaz, ele chamou de Alegria. Jack tinha vários amigos cristãos, lia poesia de autores cristãos e ambos fatores o levaram a reavaliar sua descrença, ele não era o tipo de homem que fugia de grandes questões, gostava de encará-las e foi dessa forma que começou a procurar uma resposta para o que sentia. Paulatinamente, começou a compreender suas emoções e elas começaram a se encaixar à medida que se aproximava de Deus. Percebeu, então, que a Alegria era um desejo por algo que nada na terra poderia satisfazer.
        Convertido, C.S.Lewis colocou toda a sua capacidade analítica e literária ao estudo do Cristianismo. Durante a Segunda Guerra Mundial foi convidado para falar sobre o Cristianismo em uma rádio,  ele aceitou o desafio mesmo sabendo que a pergunta que os corações dos ingleses faziam sem parar era “Onde está Deus?”. Mais tarde, Lewis reuniu todas essas palestras e as compilou em um livro chamado Cristianismo Puro e Simples, até hoje uma das obras mais conhecidas desse gênio. Obviamente, ele não parou por ai, escreveu outras obras que são referência para qualquer um que queira entender um pouco de teologia. Outro livro que precisa ser citado é a fantástica obra chamada O problema do sofrimento, nesta, Lewis tenta esclarecer outra pergunta que tanto o incrédulo quanto o cristão fazem: “Se existe um Deus amoroso por que existe o sofrimento?”
     C.S.Lewis também era professor de literatura e lecionava em Oxford, ele era irlandês, entretanto boa parte da sua vida viveu na Inglaterra. Foi lá, inclusive, que sua esposa americana o conquistou. Coincidentemente, o segundo nome dela era Joy (que significa alegria em inglês). Algum tempo depois de casados, Lewis já na casa dos sessenta anos, descobriu que Joy padecia de câncer nos ossos, ambos oraram ardentemente para que recebessem o milagre da cura. Durante mais ou menos dois anos a doença regrediu e os dois foram realizar o sonho de conhecer a Grécia. Mas a doença voltou com força total levando Joy à morte. C.S.Lewis, o gigante intelectual do século XX, sucumbiu à dor e para dar vazão a ela escreveu um pequeno diário que depois foi publicado sob um pseudônimo, chamado A anatomia de uma dor. O interessante neste livro é que na hora do sofrimento nenhum cristão está isento de questionar a Deus a respeito da dor, nem mesmo C.S.Lewis  que é dono da famosa frase “A dor é o megafone de Deus para despertar um mundo surdo.”, originária do livro O problema do sofrimento.
       Lewis, embora tenha conquistado muitos leitores, na sua universidade não foi reconhecido em vida, porque na sociedade da época o tipo de literatura que fazia não era levada em consideração. Porém a importância dele reverbera até os dias de hoje, levando outras pessoas a conhecerem e se aprofundarem no Cristianismo.

terça-feira, 17 de junho de 2014




Deus é amor, mas o amor não é Deus.
         Não precisa procurar muito, é só ligar a tv ou passear pelas redes sociais, sem dúvida, a palavra mais mencionada é AMOR. Não se passa um só dia sem falar nele, pensar nele, evocá-lo em situações diversas. O amor é o sentimento mais almejado, quem não o tem, está sempre à procura dele. Ele é cantado por poetas e cantores, analisado por filósofos, debatido em uma roda de amigos no fim de semana e o assunto principal das novelas, de vários filmes de bilheterias de sucesso.  Sua ausência é o motivo do caos no mundo, não é raro alguém dizer, ao témino de uma notícia horripilante da tv: “ Isso é falta de amor ao próximo!”. O amor é o sentimento mais belo, Luther King em um dos seus sermões, citou e explicou as facetas do amor: ágape, eros, fhilos, para tentar aplacar o ódio dos racistas.
        Por ser tão popular, o amor é quase uma divindade, dizem que ele pode mudar o mundo. Até alguém totalmente descrente acredita na suposta força motriz do amor para estabilizar qualquer situação. O amor, como dizem, é uma força poderosa. Entretanto, muitas pessoas justificam suas ações apelando para a autoridade que o amor tem  enquanto sentimento mais bonito. Alguns criminosos tentaram atenuar seus crimes porque agiram em nome do amor. Pense em um cônjuge, que ao saber da traição da esposa, a espanca dizendo que sua ação é nascida do amor que tem por ela, que assim o faz por não poder viver sem ela. Shakespeare fez o personagem Otelo praticar semelhante ato, quando, envenenado por calúnias, matou Desdêmona; impressionante o fato e propício para uma reflexão literária, que o escritor não deixou dúvidas sobre a autenticidade do amor do mouro pela jovem assassinada.
   Do amor se espera muito, não é de se estranhar que ele seja usado como desculpa para atos que levantam questões morais. Um marido, por exemplo, justifica sua infidelidade, dizendo que começou a amar outra mulher e que por isso abandonará seu lar, esposa e filhos, uma vez que não tem culpa de possuir tal sentimento. Uma mãe dá seu bebê em adoção por amor. Um pai é exigente com os filhos por amor. Por amor, os pais aceitam as escolhas erradas dos filhos. Por amor, dizem a verdade; por amor é preciso mentir. Até que ponto o amor pode ser  justificativa para todas atitudes? O amor tem um limite?
    Quando as pessoas falam sobre o amor é como se falassem do próprio Deus, e, suas atitudes, se feitas em nome do amor, devem ser perdoadas ou atenuadas. Porém é preciso fazer uma distinção aqui: Deus é amor, mas o amor não é Deus. O amor não é um sinônimo para Deus, por isso ele não pode ser um subterfúdio para qualquer ação humana. Obviamente, Deus é amor (   1João 1:8   ), mas Ele também é justiça, bondade, graça, misericórdia, perdão... Comparando, uma mesa pode ser azul, mas o azul não é uma mesa. Da mesma forma que uma mulher pode ser mãe, filha, amiga, esposa, professora, advogada. Todas as características dela em conjunto a definem, separadas não a formam completamente.
       Dar ao amor o status de Deus é ignorar que existem mandamentos que devem reger as ações humanas.  Uma ação não é melhor moralmente porque o sentimento amor existe.  O amor é um sentimento bonito, mas a justiça não fica muito atrás. E o que dizer da misericódia? Todos os outros sentimentos carregam um pouco de amor, alguém pode objetar, mas isso não faz dele o melhor sentimento.  Atribuir ao amor capacidade de justificar pecados é anular o sacrifício de Cristo (   Fil 2:8    ). Apelar para o amor como justificação de erros ou como crivo de atitudes é ser guiado por um sentimento que facilmente pode ser confundido com paixão, que é passageira e condicional.
O amor, por mais puro que seja, não é Deus.

domingo, 15 de junho de 2014

Filme O Substituto



Resenha de filme: O Substituto (SPOILER)
O Substituto na edição brasileira e em inglês Detachment (EUA, 2011), ao observar a capa do dvd, pode-se pensar que o filme trata exclusivamente sobre escola, professor e alunos. Entretanto essa história surpreende. Não é mais um filme sobre o mito do professor-herói que chega sem capa e com meia dúzia de palavras de efeito mudando a vida de todos os seus alunos, pelo contrário, é um filme extremamente humano que com precisão cirúrgica mostra a vida emocional de professores, alguns alunos e uma jovem prostituída.
O professor, chamado Henry Barthes, vivido pelo ator Adrien Brody, é uma alma machucada pela vida e carrega uma grande interrogação sobre seu passado apenas sugerida inicialmente e depois apontada como um fato importante para ele. Interessante observar que quem consegue arrancar-lhe o que o atormenta é uma menina que ele “tirou” das ruas após vê-la apanhando de um homem que recusou-se a pagá-la depois de uma relação sexual no ônibus. A jovem conquista o amor paterno do professor.
Na sala de aula, a vida do professor Barthes não é simples, ele é apenas um professor substituto, porém a escola em que vai trabalhar é reconhecida como sinônimo de violência e ele precisa lidar com o caos crescente ali, precisa gerir uma turma em ebulição; inclusive dando atenção a uma das alunas que se sente excluída da escola, mesmo sendo a melhor aluna e a mais promissora, em casa o pai não aceita a melancolia e o talento artístico dela. Barthes percebe seu potencial, mas é obrigado a negligenciá-la porque tenta constantemente não criar laços afetivos e existe a barreira, no caso instransponível, professor-aluno. E assim, a salvação da menina escorre entre seus dedos. Ele aprende a lição, e, no fim do filme, vai atrás da jovem que havia abrigado em sua casa, mostrando que vence sua barreira emocional e dá uma chance a si mesmo.  
Nas redes sociais, apareceram comentários sobre esse filme como se ele fosse mera reprodução do caos da educação, mas dizer que ele é sobre alunos problemáticos é simplificá-lo; uma vez que as lentes das câmeras acompanham os personagens até suas vidas privadas, apontando que a vida deles é o maior objeto de análise, muito mais do que suas carreiras. Em determinado ponto do filme, um dos professores que é tratado com toda indiferença pelos alunos, ao chegar em casa, a esposa não tira os olhos da tv e o filho dá muito mais atenção ao computador.  É um filme sobre pessoas, não sobre educação e suas particularidades.