segunda-feira, 2 de novembro de 2015

SOBRE PERDÃO E PERDOAR

C.S.Lewis¹ dizia que só há perdão quando se perdoa algo que não pode ser perdoado. Por mais paradoxal que essa afirmação pareça, perdoar é fazer algo humanamente impossível. Sozinhos nunca conseguiríamos perdoar, pois somos pobres descendentes de Adão. Quando o perdão acontece de fato é porque Deus "venceu" a vontade humana.
O homem/mulher sozinhos não conseguem fazer nada de bom. Todas as qualidades que temos (ou pensamos que temos) foram dadas gratuitamente por Deus. Se em nós há amor, bondade, amizade, solidariedade é porque Deus - fonte de tudo - nos têm dado gratuitamente.
Eu não me engano, reconheço que sou temperamental, e quando lembro das pessoas que me magoaram (ainda que sem intenção, o que eu duvido muito para ser sincera) só consigo desejar que elas paguem com juros do cartão de crédito o que me fizeram e há dias que desejo coisas bem piores para elas, cujos detalhes não vou esmiuçar aqui. Em outras palavras, a minha natureza humana clama por justiça e justiça segundo os meus parâmetros equivocados, tendenciosos, mesquinhos, egoístas.
A verdade é que nós não sabemos fazer justiça, não sabemos o que justiça significa porque só vemos o nosso lado da história e, por mais generosos que quisermos ser, ainda ficaremos devendo diante de um Deus conhecedor de cada detalhe da nossa personalidade, cuja sinceridade só Ele mesmo pode pescrutar.
Muitas pessoas, inclusive muitas delas cristãs, acham que a vontade delas de perdoar é suficiente para o perdão acontecer, se assim o fosse, eu já teria perdoado. O que quero dizer é que às vezes há vontade, entretanto algo bem mais complexo precisa acontecer: cura interior. Quando a cura acontece, o perdão vem junto. Alías, o perdão é parte da cura e a cura é o perdão. Porém, não se consegue perdoar se a ferida ainda sangra. Se o perdão é mérito de Deus, a cura também é.
Não adianta oferecer aos outros ou a si mesmo conselhos simplistas, por exemplo, "Mas tem que perdoar" (comos se fosse fácil), "Mas você é cristã"(se não me lembrassem, eu esqueceria rsrsrs),"Eles não fizeram por mal" (foi por bem então?) etc. Ironias à parte, nunca dou conselhos assim porque odeio explicações superficiais para dramas complexos.
Quem aconselha assim, deve (mesmo inconscientemente) se achar cheio de méritos próprios, algo que não existe, como sinalizei no início do texto. Ou nunca teve que perdoar nada, que sortudos! Quem foi magoado para valer, entende o quanto perdão pode parecer, a princípio, injusto. Contudo, o perdão é necessário para as duas partes, para o magoado e o "magoador". Porque é ele que te dará a oportunidade de recomeçar.
Já pensou se eu dissesse uma das frases acima para uma mãe cujo filho foi assassinado? Seja como for, um pouco de sensibilidade não faz mal a ninguém, assim, se tem algo que aprendi, é que quando desabafam com a gente, em geral, as pessoas não querem conselhos, mas precisam urgentemente serem ouvidas.
Parece que estou me esquivando da responsabilidade e colocando-a em Deus, não é isso. Há algo que posso fazer: reconhecer minha inteira dependência, colocando-me no lugar de necessitado, ou seja, alguém que sabe-se simples servo. Sabendo que em mim mesma não há nada de valor, que tudo que possuo é presente (graça) de Deus. Devo perdoar 70X7, se não perdoar também não serei perdoada, é o que a Bíblia ensina. Mas ainda não é fácil. Então eu oro para que Deus me ajude, nos ajude.

1 C.S.Lewis - apologista cristão. Autor dos livros As crônicas de Nárnia, Cristianismo Puro e simples etc.

domingo, 4 de outubro de 2015

Não quero ser magra, não mais.

Baleia, orca, free willie, botijão, bolão setenta cai no chão e se arrebenta,

quarta-feira, 23 de setembro de 2015

15 de outubro - Dia do professor e... dia do aluno

 Eu sei o motivo do capitalismo adorar datas comemorativas (tenho certeza de que o Dia do professor não causa frisson nos comerciantes), contudo acredito que dias assim possibilitam, ou podem possibilitar, reflexões. Acho que o Dia do professor, educador, mediador, mestre ou como queiram chamar é uma boa oportunidade para salientar algumas peculiaridades do meu/nosso trabalho.
É bom lembrar que Dia do professor também é dia do aluno, pois os dois ganham folga, se algum político com trauma de escola não inventar de juntar o nosso dia com um feriado "mais importante", igual já aconteceu em anos anteriores.
 Seja como for, ao mencionar a palavra professor é - nas entrelinhas - falar de aluno. Em primeiro lugar porque todo professor já foi aluno, quando o contrário não é verdadeiro, afinal nem todo aluno será professor. Embora na vida, vez ou outra, passeamos pelos dois papéis, é só lembrar das relações humanas cotidianas: o pai ensinando os filhos a dirigir, os filhos o ensinando a mexer no smartphone, a mãe mostrando as suas crianças algumas responsabilidades, os pais descobrindo como precisam aprender a falar "não", a caçula ensinando a mais velha lições de maquiagem, um amigo contando ao outro as maravilhas de um livro...
Assim é a vida, e ser professor não é fácil porque lidamos com os sentimentos alheios e com os nossos. O aluno pode começar odiando a matéria e terminar odiando o professor e por vezes também é o contrário... O professor, por exemplo, pode pensar que a má vontade do aluno é algo contra ele, quando simplesmente é preguiça adolescente.
 Nesse microcosmo que é uma sala de aula, é comum se perder na técnica e na rotina, o que é um perigo para ambas as partes envolvidas.  Particularmente acho impossível o ensinar-aprender sem fazer uso do sentimento. Eu não conseguiria dar um passo sem que ouvisse meus sentimentos cantando para mim. Como ensinar alguma coisa ou aprender quando a alma não se sensibiliza? Por outro lado, é perigoso deixar-se tocar por sentimentos, porque expostos estão vulneráveis, podendo facilmente ser machucadas por aí.
 Em um só dia em minha sala de aula, experimento várias emoções: alegria, tristeza, entusiasmo,  apatia, desesperança... Quantas vezes a minha esperança era pouca para mim e a dividi em trinta partes. Outras vezes, relutei ao questionar o status quo da pós-modernidade  porque sabia que iria entristecer meus alunos, mas o fiz sabendo que  deixá-los caminhar às cegas causaria um dado maior. Foi no dia a dia da escola que descobri que não mudarei o mundo, mas devo ensinar como se fosse possível fazê-lo. Outras vezes me arrependi ao insistir no meu ponto de vista, quando o coração deveria ouvir calado. Também fiz um silêncio respeitoso, querendo falar tudo o que pensava e mais um pouco. Já desabafei com meus alunos, já os vi chorar e chorei com eles. Dei conselhos em situações que não vivi, me perguntei como alguém tão jovem suportava tanto sofrimento. Fiz amigos, testemunhei sonhos, partilhei meus livros. Contei, recontei  minhas histórias preferidas, dividi  minha paixão pelo Orgulho e Preconceito, C.S.Lewis e teologia, Alencar e Clarice Lispector. Conheci a ingratidão, já fui tratada com menos respeito do que merecia, isso também é verdade. Meus alunos sempre dizem que sou calma, mas e porque aprendi a contar até cem, duzentos...
Enquanto ensino, aprendo muito não só sobre português e literatura, aprendo sobre mim mesma e revejo minhas posturas. Ah, meus alunos me ensinam bastante sobre a cultura pop e, em uma conversa informal, aprendi que emprestar os ouvidos é uma grande gentileza.
Meus alunos já foram mais meus amigos do que muita gente que conheço há anos, muitos deles são mais inteligentes do que muitos acadêmicos à solta por aí. Em restrospecto, percebo que foram eles um dos poucos a me darem apoio em muitas situações. Tive problemas e os esqueci na sala de aula. E com muitos alunos não perdi o contato, passam anos e sempre nos falamos.
Também aprendi que não existem alunos difíceis de ensinar, desde que o coração esteja aberto. Mas há alunos impossíveis de ensinar: aqueles que não se sensibilizam, pessoas que são incapazes de olhar além de si mesmas, indivíduos cuja emoção é trancafiada. Por outros lado, aprendi em sala de aula a demonstrar mais meus sentimentos.
Acho que nenhum professor negará o fato de que nossa profissão é bastante solitária, embora estejamos cercados de gente. Talvez porque é inerente ao trabalho ter muita opinião ou porque convivemos pouco uns com os outros e, na correria diária, é difícil construir alguma identificação. A verdade é que houve dias em que esperava encontrar alguma solidariede, mas não consegui acessar a sensibilidade de ninguém. Não vou julgá-los, cada um sabe o que carrega no coração.
Foi entre meus colegas, inclusive, onde conheci pessoas extremamente generosas, donas de uma combinação rara de humildade e conhecimento.
Enfim, parada diante das minhas turmas, olhando-os nos olhos, me vejo anos atrás sentada em cadeiras semelhantes e, em alguma parte dentro de mim, ainda há uma adolescente assustada com o futuro.
Desejo aos meus alunos felicidade, mas não quero que a tenham a qualquer preço,  aceitando, inclusive,  ser felizes passando por cima dos sentimentos alheios. Não, o preço da felicidade não pode ser a alienação, portanto desejo que encontrem a paz em um mundo tão carente dela.
É muito difícil ser professor, mas ser simplesmente humano em um mundo desumano é o maior desafio.




sábado, 12 de setembro de 2015

Sob o legado de Cinquenta Tons de Cinza

  O significado da palavra legado se refere a uma herança deixada por alguém que morreu, entretanto quando se fala da herança do livro Cinquenta tons de cinza, deve-se ter em mente que esta história está longe de morrer. Muito pelo contrário, está em plena saúde e procriando, como prova o novo livro da série, Grey, versão em que o protagonista mostra sua perspectiva dos acontecimentos.
   Não estou aqui para criticar os leitores de literatura erótica (embora eu ache estranho colocar erótico e literatura na mesma linha), há gosto para tudo como provam os livros do Paulo Coelho. Reluto em não deixar duas linhas aqui para alguém me lembrar do livro Lolita e outros do mesmo gênero que deixaram sua marca na literatura e, embora não seja o meu tipo de leitura, devo reconhecer que têm seu mérito. Em um escritor talentoso, a própria escrita, a escolha das palavras, a tecitura e a força narrativa podem salvar um enredo. 
   Não é o caso do Cinquenta Tons e muito menos do segmento de livros que ele trouxe à tona. Infelizmente, acaba sendo assim mesmo, um livro faz sucesso e outros com temática semelhante proliferam no mercado editorial. 
Cada um tem o direito a ler o que quiser, mas não posso deixar de sinalizar alguns aspectos do crescimento desse tipo de livro. Se não me engando foi Oscar Wilde que disse: " Quem lê livros ruins não leva nenhuma vantagem sobre quem não lê livro nenhum." 
   O que sinceramente me ofende é chamar essas histórias de histórias românticas. Elas são tudo, menos românticas. Romântico é o Nicholas Sparks e, acreditem se quiser, é o único que têm salvado as leitoras e leitores do lugar-comum que Cinquenta tons criou. Quem tem uma vaga noção do estilo literário chamado Romantismo, em ascenção nos anos 1800, sabe que a marca dele é a epítome do sentimento, em outras palavras, as histórias românticas têm como objetivo falar sobre amor. Outras características desse estilo literário são/eram amor acima da razão, sacrifício, crença na eternidade do sentimento e da alma etc. 
    Por outro lado, se faz sucesso é porque tem que lê, como disse, não atacarei os leitores de livros eróticos, mas preciso fazer alguns apontamentos, pois sempre fui uma ávida leitora de romances e não consigo enxergar quase nenhum traço dele em Cinquenta Tons e seus filhotes. Particularmente, acredito que o tal Mr. Grey até poderia ser um herói romântico, carregando um passado nada promissor e depois ser salvo por uma mudança em seus sentimentos, porém não é isso que acontece. Na história é Anastácia que topa tudo em nome do amor que diz sentir, a autora deveria ler o livro Senhora para perceber como o amor pode (e faz) tremendas exigências. Me disseram que o protagonista muda no final e acaba se apaixonando de verdade, o que teria algum mérito se dois terços dos livros não tratassem de descrições sexuais. 
Não sei por que as pessoas dessa geração afirmam que  sexo ainda é tabu, não é desde a década de sessenta e caminha a passos largos para o total liberalismo. O que esses livros demonstram é que a sociedade ao quebrar o suposto  tabu do sexo precisou reinventá-lo, adoecê-lo (como Grey demonstra) para que ele tivesse outra vez alguma graça. O problema de se exaltar o sexo como força motriz dos relacionamentos é que, ao fazê-lo, se esvazia o sentimento, o amor fica em segundo, terceiro plano, perdendo seu apelo.
Nas histórias românticas, o personagem principal é salvo e salva através do amor.  É preciso ainda sinalizar que em uma história bem construida os personagens crescem à medida que se lê/relê os livros. É como se fosse uma pessoa de verdade e aos poucos se descobre os nuances da personalidade, os gostos, e o leitor não se cansa de analisá-los porque que são riquíssimos interiormente. Bom escritores capricham ao delinear seus personagens, demoram para desnudá-lo aos olhos do leitor e, ao tecer a história, capricha ao compor os sentimentos. A escrita tem algo de sublime porque toca a emoção de quem a lê, é uma conversa de emoção para emoção. Pelo menos é esse tipo de história que me marca e se torna parte da minha bagagem cultural. 
Clarice Lispector uma vez escreveu "Que não se esmaguem com palavras as entrelinhas", em um bom livro a sutileza é parte da graça, o leitor vai catando ao longo do texto os detalhes, as delicadezas, parando para refletir sobre o que cada acontecimento significa. Em um livro romântico, o amor é o personagem principal, e a sensualidade está exatamente no não dito: um gesto, um olhar, uma nova expressão. Um crítico de cinema fez uma boa observação sobre o filme Cinquenta tons, disse que era a história de sexo menos sensual que ele já viu. Não há nela e em seus pares espaço para o não-dito, para nuances... Talvez haja falta de vontade unida a uma baita falta de talento. Para ganhar dinheiro qualquer coisa serve.
Outro dia li um livro, ignorando o ditado popular "Não julgue um livro pela capa", onde a autora em duas páginas delineou os personagens, depois usou trinta para o encontro sexual dos rapaz e da moça. Alguém vai dizer que sou uma leitora exigente e meu parâmetro é Jane Austen e José de Alencar, não é verdade. Se pegarmos o muito popular Nicholas Sparks, como mencionei mais acima, verá que ele escreve histórias simples, cuja intenção é o entreterimento, mas os livros dele são exemplos de histórias de amor bem contadas, em especial os excelentes Um amor para recordar, Diário de uma paixão e Um porto seguro. Não é esnobismo, sempre li de tudo, até aqueles romancezinhos de banca  e alguns deles estão mais para Sparks do que Cinquenta tons.
Para finalizar, me preocupa a quantidade de livros em que o tema erotismo está em cena, por exemplo, os livros da escritora Julía Quinn. Ela tem uma série de livros que almejam ser romances de época, no entanto são histórias simplesmente sexuais, cujo enredo ela deve ter usado o recorta e cola do word para compor toda a sua série de livros. Outra - que no passado ocupou o posto de Sparks - é Nora Roberts. Essa autora criou quatro personagens ao escrever a sua aclamada série Quarteto de noivas que juntas não têm a expressividade, por exemplo, da Bella da série Crespúculo. Aqui vou fazer um parênteses para lembrá-los de que Cinquenta tons foi inicialmente fanfic do livros da Stephanie Mayer. Eu era fâ do Edward (ultrarromântico) que possuia uma ou duas qualidades como personagem, e a história era bem razoalvelzinha, perdendo, obviamente, para o fascinante A culpa é das estrelas. 
Sinceramente, esses livros eróticos tão em alta na atualidade não têm nenhuma relevância, a não ser sinalizar a decadência do sentimento fortificada pela pós-modernidade e a tentativa fracassada de destruir o bom gosto. 
O que me conforta é saber que todas essas historinhas juntas nunca terão a importância de Orgulho e preconceito, Razão e sensibilidade, Persuasão, Senhora, Dom Casmurro etc. Serão substituídas e esquecidas à medida que são lidas. Os literatos do futuro, se Deus quiser, rirão do mau gosto pós-moderno, negando-se a analisar esse tipo de história. Se eu estiver viva, direi: eu avisei.


domingo, 26 de abril de 2015

Submersa

    De alguma forma, as palavras de Chico Buarque se tornaram realidade. Essa história se passa alguns anos depois que o Rio de Janeiro se tornou uma cidade submersa. Com a água tendo subido até os pés do Cristo Redentor muitas pessoas foram transladadas para lugares bem mais altos.
   Estavam olhando a noite, analisando o possível aumento das marés, quando ele caiu no chão como se seu fluxo sanguíneo tivesse sido interrompido à semelhança da energia elétrica quando acaba. Os médicos deram todas as explicações científicas, porém nada a confortou. Ele está morto.

terça-feira, 21 de abril de 2015


    Quem escreve sempre se depara com o desafio do papel em branco ou da página do word e o cursor piscando à espera da primeira palavra, da frase inicial, do parágrafo introdutório do texto. Mas outros problemas rondam quem escreve, e não precisa ser um escritor consagrado para sentir na pele o desafio que é escrever. Nunca é fácil. Os alunos pensam que são só eles que sofrem com as palavras ou com a ausência delas na hora de começar a digitar uma redação, um trabalho escolar, um desabafo.
   Como eu dizia, todos que escrevem sofrem com a escrita porque escrever é como tornar um sentimento em um fato concreto, nomear é fazer existir. Assim, muitas vezes se escreve, mas o sentimento escrito não é uma representação total do que se sente. As palavras são limitadas, mesmo que o vocabulário seja muito sofisticado, E os sentimentos são, muitas vezes, impossíveis de explicar. Mesmo você falando, relembrando, adjetivando-os, sempre está faltando mais palavras. Em muitas situações da vida, preferimos o silêncio, não pela falta do que dizer, mas porque se tem muito a dizer. E ainda dizendo muito, falando tudo, ainda está, por dentro, aquele pedacinho intocável, "indizível".
   Dessa forma, escrever limita. Mesmo me limitando, eu escrevo. Escrevo com a esperança de mudar alguma coisa, ainda que seja para mudar algo dentro de mim. Escrevo na esperança de que, se alguém ler, se identifique, ou não se identifique, mas seja qual for o caso, terei alguém testemunhando meus sentimentos. Alguém além de mim mesma.
   As estações estão mudando depressa. Ainda ontem foi meu aniversário, e embora eu vivesse um inverno particular, era primavera em toda sua plenitude. Agora é outra estação. Dessa vez as águas de março não fecharam o verão. Vivemos escassez de chuva e de sentimentos. Mesmo escrevendo tentando descrev

sábado, 11 de abril de 2015

Cristianismo: teoria e prática

CRISTIANISMO: teoria e prática
"Marx disse isso", "Marx disse aquilo", "É que Marx...", cita Marx, mas não cumprimenta o porteiro. Trata a caixa do mercado como empregada e, na classe executiva, teoriza sobre um mundo igualitário, quando seu mais profundo desejo é que o mundo continue melhor para ele. É um teórico, cujo ápice das suas melhores ideias é questionar as religiões enquanto arrota suas teorias.
Infelizmente, a hipocrisia não é um privilégio dos religiosos, ela está igualmente presente na política e na sociedade. Quando alguém cita uma ideia ou se diz partidário de uma determinada visão de mundo, o mínimo que se espera dela é que aja em conformidade com o que diz, se não o faz é porque sua teoria é um verniz para esconder um mau caráter.
O mesmo acontece, obviamente, com quem se diz cristão. Se o indivíduo não pratica o que prega, por que dar-lhe ouvidos? Você continuaria em uma igreja em que soubesse que o pastor é adúltero? Por que então continuamos em uma igreja quando sabemos que o dinheiro pedido ultrapassa a marca do razoável e passa a ser vergonhoso? Por que continuamos nessa congregação quando a beleza do templo é mais importante do que ajudar os irmãos mais necessitados? Porque, à semelhança do teórico, nosso cristianismo não tem passado de teoria.
Sentados em bancos confortáveis, esperamos que a mensagem seja edificante, isto é, desejamos o conforto dela para seguir de pé mais uma semana, porém, uma vez saciados, o próximo (que é o nosso irmão na fé) não tem o que comer.
Enquanto o marxismo pode ser apenas teoria, o Cristianismo não pode. Uma fé precisa se revelar nas atitudes. Se ser cristão é só ocupar um banco, ter uma carteirinha de membro, possuir um jargão próprio, ser escolhido para um cargo, é porque ele perdeu sua relevância e tornou-se um hábito oco e vazio, podendo ser substituído por uma opinião política, filosofia ou uma nova visão de mundo.
A pior coisa que pode acontecer com a fé é ela se tornar religião. E sabemos que existem muitas religiões porque existem diversas teorias. Ter uma religião, nesse contexto, é possuir uma teoria sobre Deus.
Se a pior coisa que pode acontecer com a fé é ela se tornar religião, a pior coisa para um cristão é tornar-se um teórico. Alguém que conhece muito sobre um determinado assunto, mas não possui a interioridade do que diz.
Falando em interioridade, é bom lembrar o que ocorre com muitas igrejas evangélicas no Brasil. Aqui, ser cristão é apenas frequentar uma das centenas de denominações existentes. Segundo o último censo, no Brasil há mais de cinquenta milhões de evangélicos. Mas não se pode dizer que eles são teóricos ou cristãos. Boa parte desse número, provavelmente diz respeito a pessoas que frequentam igrejas que não são nem teóricas e nem cristãs. Não são teóricas porque não dominam (ou se esforçam para) estudar/compreender a Bíblia. Muitas não sabem o que diz em João 3:16. Se conhecimento é poder, elas não têm poder nenhum. Nos dois sentidos que a palavra poder possui, estão a anos-luz de ser capazes de teorizar sobre a palavra de Deus. Não são, portanto, teóricas, são meras frequentadoras de igreja. À frente, listarei os motivos que fazem essas pessoas continuarem /frequentarem uma igreja.
Tampouco pode-se afirmar que nesses cinquenta milhões uma grande parte seja cristã. Não são cristãs porque não nasceram de novo, se fossem regeneradas sua prática revelaria, uma fé autêntica não pode ser guardada no bolso. Junto com o movimento gospel, os cantores e pastores celebridades, há uma multidão de seguidores frequentando igrejas sem querer de fato abandonar o mundo. Quando o mundo não é abandonado, assistimos a cultos cujo entreterimento é mais importante do que a pregação do evangelho. Em quantos cultos você já foi em que havia tantas atrações (celebridades gospel, teatro, cantores, danças, pedidos de ofertas) enquanto a mensagem bíblica ficava para meia hora final, e os membros já se preparavam para ir embora, levantando sem esperar a palavra terminar?
Não me admiro, embora me revolte, quando a teologia da prosperidade faz mais e mais seguidores no Brasil, pois uma mensagem de autoajuda pode ser feita em minutos. Entretanto, uma pregação séria precisa de estrutura, conhecimento, reflexão e raciocínio, tanto de quem fala como de quem ouve.
Como professora, vejo cada vez mais as dificuldades que meus alunos enfrentam para abstrair determinados assuntos (alunos do ensino médio que em breve cursarão uma faculdade), às vezes me pego em sala de aula pensando no trabalho que daria (que dá) estudar a palavra a fundo. O que explica em parte, o entreterimento tomar os cultos.
Eu disse que explica em parte, conheço cristãos sérios que não eram afeitos às matérias da escola, contudo a Bíblia amavam estudar. Assim, explica em parte também porque a qualidade do ensino brasileiro é deficitária, não estou dizendo que meus colegas não têm feito o impossível, porque têm. Mas o aluno deve conhecer a importância do aprendizado para o seu crescimento, o mesmo vale para o cristão ou aquele que busca ser de fato um cristão. Amar a Deus é querer conhecê-Lo mais e melhor.
Analisando os fatos, a culpa da Igreja brasileira está se "pós-modernizando" é, em muito, dos frequentadores de cultos. Sinceramente, acho um perigo essas megaigrejas. Ali, os pastores não conhecem suas ovelhas, não conseguem doutriná-las e cedendo à pressão do público, comprometem o testemunho.
Mas o que faz tantas pessoas frequentarem uma Igreja quando não estão dispostas a abandonar o mundo? Em primeiro lugar, é que elas estão sendo ensinadas assim. Spurgeon, depois A.W.Tozer, depois Paul Washer avisaram/avisam que o entreterimento iria ser confundido com mensagem e vice-versa. Os cristãos autênticos não têm espaço nas igrejas/casa de shows (perdoem-me a franqueza).
A mensagem verdadeira traz a prerrogativa "arrependa-se", e no lugar de pecado há o eufemismo erro. Assim, com uma mensagem moderada, a igreja fica cheia porque é um lugar legal. Os pais adoram seus adolescentes serem do ministério de dança, afinal que há de mau em diminuir o apelo em prol de empurrar a maioria de qualquer forma pela porta estreita? Mas a verdade é que essa porta não é mais estreita, não foi alargada, ela foi destruída. Ter uma igreja lotada hoje é mais importante do que ter uma comunidade salva.
Outros frequentam uma igreja pela ideia de pertencimento que uma comunidade traz, e não há nada de errado em se sentir feliz por ter tantos irmãos e ser acolhido. O acolhimento é parte do testemunho cristão, o receber de braços abertos é uma característica da Igreja. Só que muitos denominações, na ânsia de conquistar fiéis, permitiram que o secularismo viesse junto. Tem-se, portanto, uma igreja cheia, mas profundamente secularizada. No desejo de acolher, terminou aceitando tudo ou disfarçando o secular com o verniz do que atualmente se chama de gospel. Conheço uma igreja que, penso eu, com a ideia de manter os jovens na igreja, começou a fazer bailes gospel. Outras, conforme vimos esse ano, fizeram blocos de carnaval e para santificar de alguma forma, usaram o termo "para Jesus" atrelado ao discurso.
Sinceramente, observando todos os fatos, incluindo os discursos de muitos dos nossos representantes na mídia, há uma geração de cristão que são ateus na prática. Será que quando tudo isso listado acima começou, a velha guarda da igreja evangélica estava dormindo? Por que não zelamos mais pela palavra de Deus? Ser grande é mais importante do que ser verdadeiro? Antes a igreja era julgada por ser fechada demais e afastava as pessoas de fora (o que provou-se ser bobagem), agora ela é pós-moderna demais e afasta os cristãos sérios?!
Muitos cristãos me dizem que eu não devo me preocupar com o que vem acontecendo com as Igrejas, pois o Senhor vela por ela e há uma promessa Dele a guiando. Sei disso, mas como deixar que tentem destruir o que você ama e ainda silenciar sobre isso? Um do pecados que nós, cristãos, mais seremos perdoados é o de omissão.
Agimos como teóricos quando não praticamos o que pregamos, porém somos piores ainda quando por medo de nos indispor com os irmãos, deixamos a moda guiar a nossa Igreja.
Por fim, sejamos cristãos não só na teoria. Que a palavra de Deus seja a nossa vida hoje, amanhã e pela eternidade

quinta-feira, 9 de abril de 2015

teorias, ideologias e afins

   Muito se fala sobre a hipocrisia no meio religioso,  mas, infelizmente, eka não é exclusividade dessa esfera. A hipocrisia está presente também na política e nas visões filosóficas.
Marx disse isso, Marx disse aquilo,  Marx apontou esse fato etc, citam Marx, são seus defensores e não cumprimentam o porteiro,  se acham melhores do que o varredor de rua e enquanto citam Marx pensam nas suas viagens ao exterior e voando na classe executiva, com suas garrafas de champanhe importado, questionam o capitalismo. É para morrer de pena ou de raiva?
Quando as teoria e ideologias (e visões religiosas) não são confirmadas na prática,  se tornam equivocadas e quase desnecessárias.  Sua utilidade se limita a uma discussão de bar para passar o tempo.
    Tempos infelizes esses nossos, ninguém quer o ônus que quaisquer crença suscita. Sentados na cadeira do teórica,  repete-se várias ideias ao mesmo tempo em que agem despreocupadamente como se falar e se comprometer tivessem a anos-luz de distância.
Outrora, essa sociedade viciada em likes, em status e apaixonadas por celebridades, produziu mulheres e homens comprometidos com o que diziam. Quem questionará o testemunho pessoal de Madre Teresa,  Luther King e Gandhi. Cite um teórico atual (religioso ou não) cujo caráter marcou/marca o século XXI.
   Vivemos uma crise ideológica,  crise sim, crise porque somos bons falantes, péssimos ouvintes e supernegligentes na prática de nossas ideias.

domingo, 1 de março de 2015

Infinita

    Ela caminha pela praia, observando seus pés marcarem a areia fina. É noite, por algum motivo, um sentimento de solenidade a encontra. A brisa marítima, as estrelas desaparecendo no céu e o pulsar de seu coração faz com que se sinta outra vez noiva. É uma noiva pronta para casar-se com o mar que hoje parece mais infinito. Pensa, então, na vida construída. Por baixo das rugas que enfeitam seu rosto, há uma história sendo contada.
     Olha o mar, talvez suas emoções, em determinados momentos da vida, o fariam transbordar. As ondas seriam o fluxo da vida, indo e vindo, chegando e partindo, sempre recomeçando. De alguma forma, parada em frente ao mar, com as estrelas encobertas pelas nuvens, ela  é um pouco cada uma de nós e ela sabe disso. Nós, mulheres, estamos conectadas pelos sentimentos que carregamos.
      Estamos abraçadas as nossas ancestrais, ultrapassando quaisquer árvores genealógicas, qualquer núcleo familiar. Somos Eva. Somos a mulher noiva do mar, refletindo sobre sua vida. Somos a menininha recém-nascida que agora dorme no colo do pai, somos a mãe dela que o parto levou. Fomos aquela mulher em vestidos caros do século XVIII, e a mulher comum plantando rosas ao redor de uma casa simples. Foi o nosso capricho que tornou uma casa um lar, foram os nossos braços que acolheram soldados disfarçados em fiapos de gente,  quando não fomos aquelas que lutaram lado a lado com eles na frente de batalha. Somos aquela mulher separada do filho em um cruel senzala.
      A mulher de pé encarando o mar é cada uma de nós, nós somos ela. Nossas emoções plurais e ao mesmo tempo singulares, nos despersonaliza, une, divide e acolhe. Contraditória, assim é aquela mulher agora molhando seus pés na água salgada, pensando na menina que foi um dia, na moça sonhadora que guarda em um compartimento da sua alma.
     Assim, ela, eu e vocês somos Esther brigando por sua fé e seu povo. Somos Maria Madalena carecendo de perdão e arrependimento. À semelhança de Maria acompanhamos os nossos em suas vias-Crucis. Fomos a inspiração de poetas, a motivação de guerreiros e mudamos o mundo. A nossa voz, força e fragilidade convenceram reis. Somos Rainha Elizabeth, Irmã Dulce e a amorosa Madre Tereza.
     Ela tem cinquenta anos e sabe que a idade não é só um número, o vento sacode seus cabelos e ela ignora o frio da noite, ouve a melodia das ondas, inspira, enche de poesia sua alma e precisa rever seu passado para ter força para viver mais meio século. Nós somos essa mulher que a sociedade tantas vezes quis calar porque julgavam sentimento sinônimo de fraqueza. Somos aquela mulher não mais segurando o choro, se orgulhando de suas lágrimas e lutando apesar delas. Somos a mulher de burca, de véu, de saias longas e curtas. Somos descontentes e contentes por mais ou menos cinco quilos. Somos superficiais, modernas, intelectuais, artistas, emotivas. Apenas mulheres amando e odiando o padrão de beleza que nos ditam. Somos Maria da Penha e sua luta por justiça.
   Fomos as escritoras subjugadas por um pseudônimo, à época que mulheres não podiam escrever os romances que liam vorazmente. Somos vaidosas representadas na indígena observando-se nas águas limpas de um rio. Somos a menina sonhadora lendo a história de um corajoso cavalheiro e apaixonando-se por ele a cada linha, parando apenas para suspirar. Somos as damas tão docemente descritas por Chico Buarque, Djavan, Castro Alves... Somos Cecília Meireles, Adélia Prado e Florbela Espanca se desnudando em versos com e sem rima. 
    Tão vivida foi a vida dessa mulher, sua vida daria mais que um livro, ela pensa contemplando o infinito que o mar sugere, e o olhar dela vem dos nossos olhos.  Ela é porque nós somos a mulher prometida na menina que Anne Frank imortalizou. Somos, inclusive, os sentimentos exorbitantes de muitas mulheres, cuja intensidade as ultrapassaram  e os ditaram em livros. Somos autora e personagem. Somos intensamente Clarice Lispector, a triste Macabéa e a complexa G.H. Somos a romântica Jane Austen, a orgulhosa Lizzie e a doce Anna. Escritores tentaram nos desenhar, assim temos a paixão implacável de Aurélia Camargo, o carisma de Capitu e a ingenuidade de Carolina. Somos Julieta, Desdemôna,  Dulcineia e Sherazade.     
    A mulher, à beira do mar contemplando além do horizonte, segura um punhado de areia, que escapa pelos seus dedos e volta para o mesmo lugar. Ela sabe que o tempo tem esse mesmo movimento: escorre, flui, mas não desaparece totalmente, ele estará presente em outras vidas e um pouco dela, imortalizado nos sentimentos de outras mulheres, extrapolará o infinito.
    

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2015

Por que sai da igreja?

A primeira vez que entrei em uma igreja evangélica,  eu tinha um pouco mais de onze anos. Naquela época,  quem tinha essa idade podia ser considerada criança ainda. E foi com olhar ingênuo que pedi fervorosamente para Deus curar a minha mãe,  a doença dela nos levou àquela igrejinha que funcionava em um porão.
Não lembro muitos detalhes dela nessa época,  foi um tempo muito sofrido para todos nós,  talvez  por isso as lembranças me fogem. São só imagens soltas em minha memória,  imóveis, como fotografias. Lembro, inclusive, quando essa mesma igrejinha se mudou para uma garagem no bairro Getúlio Vargas. Era uma Igreja pentecostal, bem barulhenta cuja música se ouvia a duzentos metros de distância.  Lembro com carinho da canção Noites traiçoeiras,  eu ficava bastante comovida. Não sei se entedia o significado de traiçoeira,  mas a parte "Se a cruz pesada for, Cristo estará contigo" não tinho como não entender. Sei que Deus me chamou ali, no meio da minha dor.
Deus atendeu meu pedido, minha mãe ficou curada, e o tempo passou. Continuei frequentando aquela igreja até amadurecer um pouquinho e começar a questionar muitas coisas que via e ouvia.
Me afastei de lá, porém continuava orando, tendo em vista um comportamento cristão apesar do meu temperamento que era  bastante explosivo.
Em geral,  estudar sempre me interessou muito. Tinha desde de cedo o sonho de ter uma profissão e ter uma vida melhor. Minha adolescência foi passada junto a muitos livros. Às vezes lia um por tarde, era chegar da escola, almoçar e ler, ler. E o tempo continuou passando.
Quando cheguei ao terceiro ano, já estava pensando em uma forma de cursar faculdade. Uma amiga me arrumou emprego e eu juntei dinheiro para pagar adiantado seis meses da faculdade de letras que muito me encantou.
Ao mesmo tempo,  comecei a frequentar outra igreja evangélica,  uma igreja bem grande. Eu entrava muda e saia calada. Sei que na minha mente ainda estava muito do cristianismo que aprendi na primeira igrejinha. Na nova igreja, eu aprendi e consolidei muitas das minhas visões a respeito do verdadeiro evangelho. Me batizei no dia 27 de outubro de 2002.
Frequentava esta igreja sozinha, alguns da minha família foram para outras denominações,  outros simplesmente deixaram de ir pouco a pouco. Passaram-se anos, eu trabalhei em uma escolinha e paguei com bastante sacrifício a minha faculdade e, graças a Deus, me formei.
 Todo esse tempo, continuava firme na igreja em que me batizei. Para ser sincera, nunca foi difícil para mim evitar comportamentos que supostamente são típicos de jovens. Baladas e bebidas nunca me tentaram. Sempre fui meio nerd. Sempre preferi a companhia dos livros. Além da igreja, eu ia bastante ao cinema ou lanchar com amigos da faculdade.
Terminei a faculdade e por motivos que hoje não lembro com exatidão me afastei de muitos daqueles amigos ou foram eles que se afastaram... Agora não importa mais.
Depois de um ano de formada, comecei a trabalhar no estado, era fim de 2007. Eu continuava na igreja, tinha e tenho alguns amigos de lá,  não participava de grupos ou ministérios, era meio tímida e todas as vezes que tentava falar alguma coisa, tinha a impressão de não ser bem recebida. Fiz alguma amizade com as pessoas que sentavam ao meu lado.
No início de 2008, comecei a me sentir mal e fui diagnosticada com depressão e síndrome do pânico.  Foram oito meses muito pesados. A minha angústia não tinha fim. Lembro de ir para igreja me arrastando literalmente, a igreja ficava a uns trezentos metros do meu ponto de ônibus.  Mesmo doente não deixava de ir. De início, tentei contatar uma psicóloga cristã,  mas ao telefone, eu a ouvi mandar dizer que não estava. Uma pessoa da igreja me aconselhou e eu fazia terapia com uma psicóloga que era budista.  Acabei desistindo da terapia, pois a psicóloga não conseguia quebrar a minha resistência de pensar um pouco fora da minha caixinha cristã.  Para ser justa, provavelmente eu também não facilitava para ela. Fosse como fosse, nós não nos entendíamos bem.
Graças a Deus, fui melhorando. Ainda tinha muitos pensamentos ruins porque a depressão me amadureceu e comecei a entender e me assustar com a complexidade do mundo. Me senti totalmente vulnerável, era como se eu não estivesse mais no controle das coisas. Desde então,  ainda não consegui encontrar uma forma de ser menos agredida por esse mundo.
Tinha melhorado um pouco e junto com outras irmãs passei a corrigir a revista da EBD durante uns dois anos. Me indicaram para cargos, aulas lá,  declinava sempre porque não me sentia apta.
Continuava, como chamamos, crente de banco. De alguma maneira, comecei a ir a igreja e notar que algo havia mudado. A palavra não me tocava, pensei que era por causa da depressão que alterou muitas emoções.
Durante todo esse período,  a igreja era meu porto seguro. Ouvi em algum lugar a frase "Nos sempre teremos Paris.", depois descobri que a frase era de um filme. Lembrava da frase e pensava "E eu sempre terei a igreja." Pois Cristo estava fora de questão eu perder. Se tudo o mais desabasse,  poderia correr para igreja. E tudo ficaria bem.
Via na tv, os absurdos de muitos "evangélicos", assistia a muitos líderes que hoje percebo que têm uma teologia herética.Foi durante a minha depressão que conheci C.S.Lewis,  Philip Yancey. Foi no sofrimento que a minha fé se racionalizou e se tornou exigente ao desejar ouvir um culto realmente comprometido com a palavra de Deus. Meus olhos abriram e meu coração começou a desejar aprender mais sobre Deus, se e possível,  me apaixonei novamente por Cristo. A minha fé de fato tornou-se minha base de vida.
Ao mesmo temoo que aprendia teologia, passava a notar muitas coisas nas igrejas que não estavam em consonância com a palavra. Já alonguei bastante, mas é necessário.  As contas pararam de fechar, isto é,  o que eu sabia sobre o Cristianismo não era o que via e ouvia. Em resumo, o problema não bera eu. Assim me sentia diferente em meio aos diferentes. A igreja me ensinou que julgar é pecado, então sofria calada. Chorava por causa da solidão que sentia ali, mesmo próxima daqueles que professavam a mesma fé .
Eu sai da igreja e vai fazer dois anos. Passo a listar os motivos: 1. Culto: vemos qualidade musical



sábado, 17 de janeiro de 2015

Talvez hoje
Há uma semana atrás, ela viu os fogos de artifício pipocarem luminosidade no céu.  Era uma comemoração, pelo menos para ela, muito triste, porque, junto ao ano recém-nascido, a sua infelicidade completa cinco anos.
Presa no trânsito engarrafado da primeira sexta-feira útil do ano, relembra como tudo aconteceu. É um filme de terror que não abandona suas retinas. Até quando está sonhando, ela tem medo. Hoje, está duplamente ansiosa. Hoje seu sofrimento poderá ter fim.
A buzina dos automóveis não perturbam sua reflexão.  O calor de  verão do Rio de Janeiro não derrete o iceberg que sufoca sua respiração. Quantas mães já perderam seus filhos?  Tantas outras tiveram suas crias desaparecidas, tal como ela, sem ter o conforto de terminar seu luto? Sente-se única em sua agonia.
Como pode culpar seus outros filhos de terem seguido com suas vidas? Como pode culpar seu marido de ter desistido de ter esperança e junto desistir de um casamento de vinte e oito anos, se ela mesmo não aguenta sua própria companhia?
Não se reconhece mais, não somente pelas roupas de marca que agora são grandes demais. Não restou nada da mulher festeira que um dia foi. Vai a festas, sorri debaixo do constrangimento que causa em todos ao seu redor. Existe algo mais tocante do que uma mãe na plenitude do sofrimento? Sente-se Maria à beira da cruz vazia.
Há alguns metros do seu trabalho, existe uma pracinha, às vezes ela passa de carro em frente e senta-se em algum lugar da grama, embrulhada em seu terninho de empresária, cruza as pernas e deixa-se estar ali. Aquelas crianças que correm para todos os lados quase são uma ponte que traz seu filho de volta, observando-as consegue detalhes da infância dele. Relembra dele em todas as fases da vida. Todas as fases em que ela o acompanhou. Quem dera, ele ter sido para sempre criança e nunca ter saída de debaixo de seus cuidados. Quando se dá conta do tempo que passou na pracinha... é noite, Hora de voltar para sua casa vazia. Mais vazia sem ela. Mais silenciosa.Tantas e tantas vezes ela dorme no quarto dele...
Todas as manhãs, acorda com um fiapo de esperança que à noite será desfeito pelas lágrimas arrebentando em um travesseiro, com soluços tão altos que ecoam pela mansão silenciosa.
Muitos admiram sua suposta placidez, sua esperança que nunca se torna resignação.  Eles estão enganados. Ao olhar-se no espelho, tudo que anseia, sonha, deseja, é uma notícia. Ela quer qualquer notícia.  Se culpa de tantas e tantas vezes ter invejado outras mães que tiveram a oportunidade de se despedir e completar o ciclo da dor. E, quem sabe, seguir adiante.
Ela está presa a cinco anos atrás,  como se fossem uma bola de concreto prendendo seu pé.  Tivera alegrias nesse período,  um netinho nasceu e corre pelos corredores, esconde-se atrás dos móveis e a distraí por alguns minutos.
No início,  ao ouvir, ainda que distante, o barulho de uma moto, seu coração disparava,  tudo nela era expectativa.  O próximo som seria do portão rangendo,  ele abriria a porta chamando por ela. Ela brigaria com ele para que tirasse as botas sujas do sofá.  Não daria a mínima para as reclamações dela, quereria pizza no jantar e reclamaria de tudo, como costumava fazer. "Tão jovem, tão ranzinza.", ela costumava dizer.
Sabe que deixou-se cair em algum lugar nesses cinco anos, não sabe se poderá se reencontrar e trazer a si mesma de volta. A mulher de completo asseio de hoje é um espectro da mulher vaidosa de antes. Não importa, tudo que precisa é de uma notícia.  Pela manhã,  recebeu uma ligação. As características das roupas coincidem, segundo eles. Já faz tempo que não ligavam. Ela não contou para ninguém,  nem para os filhos. Todos tiveram que suportar sua quantidade de alarmes-falsos.



sexta-feira, 9 de janeiro de 2015

Sobre religião e terrorismo

SOBRE RELIGIÃO E TERRORISMO
Ao ver alguns jornais associando o termo religião à terrorismo, me preocupa e incomoda o fato de apontarem uma crença religiosa a única culpada por formar um terrorista. 
Na verdade, as pessoas não precisam de nada para odiar, pois elas fazem isso sem motivo mesmo. Observe na véspera de feriado o trânsito engarrafado, o sujeito pode ser pacifista, vegetariano, vegano que, se ele não se vigiar, estará brigando por meio metro da via, por uma ultrapassagem não sinalizada ou qualquer outra bobagem. A natureza humana, infelizmente, é má. Só fazemos o bem (ou somos razoavelmente bons) porque alguém se deu o trabalho de nos educar. 
Antes que pensem, não estou justificando os terroristas (Deus me livre!), estou tentando mostrar que a religião por si mesma não forma assassinos, é um conjunto de fatores: um deles, como sinalizei acima, é a propensão humana à maldade. 
De acordo com o Cristianismo, todos, todos nós temos uma natureza caída, devido ao erro de Adão ao desobedecer a Deus e comer o fruto da única árvore proibida. Depois disso, Jesus veio para que através do seu sacrifício vicário, o homem fosse restaurado até tornar-se aquilo que Deus planejou. Diante disso, o homem só faz o que é certo porque um pouco da bondade divina reluz sobre seres decaídos, sobre nós.
Outro fator, que nunca deve ser ignorado, é que muitos desses terroristas foram educados desde pequenos com uma crença deturpada de que deviam espalhar sua fé ainda que ao seu encalço trouxesse dor, morte, violênfcia. Mais uma vez não estou justificando os atos deles, apenas quero defender o termo "religião" uma vez que ela é atacada sempre que algo semelhante ao 11 de setembro ou aos cartunistas franceses acontece.
Esses dias mesmo, soube de uma pai que rodou o mundo atrás do filho que foi "aliciado" por uma célula terrorista, ignorando toda boa educação que recebeu. O que leva um jovem bem educado, de boa família, a participar de uma ideologia fruto da deturpação de uma religião? Como eu disse, muitos desses criminosos já tinham muito ódio e a alucinação religiosa foi a forma que encontraram para expô-lo.
É bom lembrar, inclusive, que se revermos a história mundial, perceberemos que batalhas foram criadas  por diversos motivos, sendo a religião mais um deles. Regimes autoritários ateus também distribuíram muita dor pelo mundo, políticas e ideologias diversas tiveram e têm seus fanáticos de carteirinha. Até porque muitas pessoas colocam "fervor religioso" em suas ideias. Cabe lembrar da discussão acalorada que a última eleição causou aqui no Brasil, separando amigos de longa data. Somos humanos e infelizmente a tolerância nunca foi nosso forte.
Não dá para argumentar que a religião islâmica esta produzindo terroristas e assassinos, mas que terroristas e assassinos estão usando a religião islâmica para extravasar a maldade que está neles. Em resumo, eles são maus (pelos motivos que citei acima) e buscam uma crença qualquer para justificar seus atos, quando a finalidade deles sempre foi a violência pura e simplesmente. Isso acontece muito, se observarmos atentamente o mundo em que vivemos. Veja Hitler que criou bases teóricas diversas para justificar suas ações contra os judeus, quando suas ações eram/são injustificáveis.
O que não pode acontecer é as pessoas pensarem que eliminando as religiões ou criando pessoas menos "crédulas" a violência se reduzirá de maneira significativa. Já ouvi muita gente argumentar veementemente contra as religiões, em especial contra  o Cristianismo, esquecendo que ele é alvo de muita intolerância, no link https://www.portasabertas.org.br/cristaosperseguidos/ , há uma mostra disso. 
Aqui vou deixar um espaço para alguém falar da Inquisição, Idade Média, Cruzadas e de que o Cristianismo é culpado por eles, quando os mesmo são filhos da deturpação de uma crença:                                                                                                                                                                   Infelizmente as pessoas que começam argumentando contra o terrorismo acabam acreditando que a secularização torna uma sociedade menos propensa ao ódio, ou seja, menos religião, mais tolerância. Entretanto, não se pode defender o direito de expressão acabando com o direito de cada cidadão exercer sua religião e falar livremente sobre ela, pois isso é criar uma ditadura de opinião em que seu direito só é direito quando não contraria o meu.
Como diria C.S.Lewis: "É IMPOSSÍVEL tornar o homem bom pela força da lei; e, sem homens bons, não pode haver uma boa sociedade. É por isso que temos de começar a pensar no segundo fator: a moral dentro de cada indivíduo. Nada mudará por fora, se algo antes não mudar por dentro."