terça-feira, 7 de outubro de 2014

Ao professor com carinho

É mais um dia comum. O professor nem lembra da sua data. Acorda apressado, tateando pelo escuro, procura seus óculos no criado-mudo e esbarra nos livros que lê, deixando tudo cair. Banho para despertar e café, companheiro de longa data, ajudará na concentração.
É cedo ainda, o sol desponta no céu, já reinando absoluto. O professor cantarola sua música preferida e se pergunta: quantas vezes já fez este trajeto até a escola? Incontáveis vezes. Quantas aulas já preparou? Quantas avaliações? Quantos alunos? Impossível saber.
Tudo que sabe é que possui um ofício e nesse exercício experimenta diversas emoções.  Tantas vezes dobrou seus problemas e os guardou no bolso da camisa antes de entrar na sala de aula. Outras vezes,  a motivação que o professor tinha cabia em uma colher de chá, mesmo assim a multiplicou para dezenas de alunos.
 É mágico, sensível, psicólogo, amigo. Ao vestir tantos papéis,  aprende a arte de ensinar. Se empresta e acompanha as mudanças da sua alma como o marinheiro analisando as marés. Já entrou na sala leve, saiu carregando o mundo. Assistiu aos jornais e o universo pareceu estar sob sua tutela, mas a turma estava interessada e o curou provisoriamente de sua angústia.
Ele podia apenas cumprir uma tarefa, mas como não se emocionar com a matéria que ensina? Vê tanta beleza no conhecimento que se não deixar sua voz reverberar, tem certeza de que implodirá, tornando-se poeira igual àquela que sobrava em suas mãos do antigo giz.
É professor e jardineiro, lança a semente à espera de que frutifique até mesmo no concreto. Ele é, inclusive, contorcionista, quando precisa encaixar tantos saberes em escasso tempo. É um pouco profeta ao anunciar:"Se vocês não estudarem..." Tem paciência de avô,  mesmo quando jovem. Estudo, dedicação e tempo tornaram-lhe muito mais eficiente do que o google, por isso conserva a austeridade da antiga Barsa, só que em uma roupagem mais moderna.
Como professor aprende todos os dias a perdoar. Perdoa a ingratidão do tempo e do sistema. Perdoa os dias que correm adulterando sua imagem no espelho. O professor, em sua sala de aula, quando retira seus olhos do quadro e olha para a turma, percebe quantos anos sobre ele já passaram. Parece com uma antigo carvalho tentando sobreviver às alegrias e provações das estações.
É humilde o bastante para saber que não é super-herói, dói saber que não salvará o mundo como um dia planejou, mas faz bem a sua parte ao dizer aos seus alunos que juntos, quem sabe, construirão um amanhã mais bonito.
Sabe que marcou alguns corações,  sabe que seu nome é a senha de e-mail ou da conta no banco de muita gente. Alguns alunos sorriem ao se lembrar dele porque ele sorri quando se sente parte do progresso deles. Nos dias mais difíceis, as lembranças o embalam. Merece reconhecimento, abraço sincero, livros, pois seu trabalho não é um trabalho apenas. Ele não é um operário executando uma repetitiva função, é, antes de tudo, um construtor de vidas.
Lá vai ele caminhando pelo corredor da escola, passo apressado, livro debaixo do braço, veste simplicidade para ensinar e aprender. Talvez o professor nem pense nisso, entretanto o que ele mais ensina é esperança.











I

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