domingo, 16 de novembro de 2014

É ali que as dores do mundo encontram seu término - ele pensa na pausa do seu árduo trabalho.
Ele escava mais um pouco,  alguns metros de terra serão substituídos por um corpo precioso que uma alma preciosa habitava. Ele perdeu as contas de quantas covas cavou. Seu trabalho, como todos opinam, é triste, solitário.  Mas na maioria das vezes, não pensa nisso porque tem contas a pagar e o barulho delas costuma ser mais alto. Entretanto,  hoje não é um desses dias. Hoje, ele está pensando sobre a vida ao observar a morte.
Só nesta manhã,  testemunhou dois velórios.  É interessante analisar as pessoas que os seguem. Uns estão desesperados, carregados pelos familiares e amigos; outros, resignados,  não há nada mais a fazer é o que o semblante deles denuncia.
Ele observa também como as pessoas se distinguem na morte, embora o cemitério seja um lugar comum a todos, a riqueza, a pobreza e a indigência mostram suas tonalidades também ali. Só olhando as lápides é possível saber o status de cada um. Isso também é triste - pensa o coveiro.
Observou horas antes o cortejo fúnebre,  um dia de verão enfeitava o céu em contraste com a dor daquelas pessoas. Algumas mulheres choravam ruidosamente, os homens limpavam uma ou outra lágrima furtiva, igualmente lamentavam-se. Havia muitas pessoas, deveria ser alguém muito amado.
Uma menininha fantasiada com uma roupinha de princesa fazia com que os presentes, por alguns segundos, esquecessem a dor. Alguns em lágrimas,  davam um breve sorriso ao testemunhar a inocência da criança brilhando ali. Não havia como não desviar a atenção do funeral para a menina que, embora calada, enviava uma mensagem subliminar de que a vida deve recomeçar. Sempre.



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