Eu não sou leitora da Simone de Beauvoir, por isso vou me deter na citação dela que causou um certo frisson no ENEM do ano passado: "Ninguém nasce mulher: torna-se mulher. Nenhum destino biológico, psíquico, econômico define a forma que a fêmea humana assume no seio da sociedade; é o conjunto da civilização que elabora esse produto intermediário entre o macho e o castrado que qualificam de feminino." Assim o ser mulher/se tornar mulher nada mais é do que uma construção social, portanto quando um bebê nasce menina, em algum tempo se ajustará ao papel que a sociedade patriarcal impõe. Mas o papel de (supostamente) dominador também é imposto ao homem, não é? Aqui eu deveria deixar umas linhas para alguém bater no Cristianismo ao dizer o quanto ele dividiu/definiu/estragou a sociedade e blábláblá ao trazer uma cultura patriarcal. Só que esse tipo de argumento me dá sono, pois não traz nada de novo, exceto mimimi antirreligioso.
É claro que a ideia de direitos iguais não é só feminista, é humana, e óbvia. Entretanto, algo que o feminismo fez que não merece aplausos é impor o padrão do comportamento sexual masculino às mulheres. Como se um comportamento sexual mais liberal ensinado por séculos aos homens fosse um padrão a seguir e uma forma de estar mais livre. Viver dessa forma também não é uma construção social? Será que a ausência de um padrão em uma sociedade também não é um padrão imposto e aqueles que não se curvam ao padrão (ou a suposta ausência dele) também não se marginalizam em um mundo pós-moderno como as mulheres foram marginalizadas em séculos passados? Eu respondo sim para as duas perguntas.
Eu acho que poderia dizer assim: "No meu tempo" mulheres e homens eram ensinados que o corpo é sagrado e não deve ficar à merce dos seus próprios desejos por aí, porém como não quero soar ultrapassada, vou poupá-los de mais palavras sobre isso, Vou voltar ao feminismo de hoje em dia.
Quando eu converso com mulheres da minha idade e com as minhas alunas, eu não as acho tão feminista como a mídia diz. Não são tão liberais assim quanto vemos na TV. Aliás, conheço muitas mulheres que só são feministas na liberação sexual, quando o assunto é buscar a sua independência financeira, elas torcem o nariz.
Todos nós sabemos o sucesso que a coleção Cinquenta tons de cinzas fez entre as mulheres. Esse será meu ponto de argumentação quando no título disse que "As mulheres que se dizem feministas não são tão feministas quando dizem ser".
Se é verdade que a maioria esmagadora de leitores do Cinquenta Tons são mulheres, essas mulheres não são feministas. Todos conhecem a história, um pequeno resumo para lembrar: jovem humilde conhece homem poderoso, rico, bonito e dominador e aceita fazer todas as vontades dele porque está apaixonada. Nesse interim, ele a enche de bens de grife e a persegue de modo obsessivo, convencendo-a a fazer todas as suas vontades sexuais. Analisemos os números, na nota de rodapé estão as referências:
1) "Grey", o mais recente livro da saga "Cinquenta tons de cinza", da autora britânica E.L. James, bateu recorde de vendas na primeira semana após o lançamento;
2) O trailer de "Cinquenta Tons" é o mais assistido em 2014;
3) Trilogia "Cinquenta tons de cinza" já vendeu mais de 5,5 milhões de cópias.
A pergunta de um mihão de doláres é: como uma história de uma mulher submissa em vários sentidos faz sucesso com mulheres feministas? Algúem vai dizer que é o sexo que faz sucesso. Mas ali o homem também é o dominador. Em outras palavras, ele oferece conforto e ela topa tudo. Existe algo mais machista do que comprar a vontade de uma mulher? Daqui ouço alguém dizer: "a Anastacia ama o Grey". Essa afirmação piora a conclusão, porque é o mesmo que mulheres vitimas de violêcia psicológica e física dizem para não saírem de um relacionamento abusivo.
Por outro lado pode-se analisar o seguinte, muitas mulheres só são feministas em alguns aspectos, direitos iguais agradam a todas,mas o homem que levanta suspiros é o "das antigas". Particularmente, algo que gosto nos seriados policiais e nos livros românticos são os homens com a postura "deixa que eu resolvo". Eu não posso servir de exemplo porque não sou feminista. Ainda acho que o mais bonito em um homem é sua masculinidade, no sentido de cuidador e protetor (Aí de mim que sou romântica).
O fato é que Cinquenta tons lança uma sombra nos ideais feministas, uma delas é o tipo de homem que habita o imaginário de muitas mulheres. Forçando a vista, dá para perceber que Grey tem o fortuna dos prícipes encantados que assistimos na infância, só que no lugar do cavalo branco existe um helicóptero. Não estou defendendo o livro acima citado, defitivamente não é o meu tipo de leitura. O que estou dizendo que uma análise do sucesso do livro revela muito sobre as pessoas que o leem.
Para terminar, o fato é que uma posição contruida socialmente pode ser abraçada livremente e conscientemente, Simone de Beauvoir.
O fato é que Cinquenta tons lança uma sombra nos ideais feministas, uma delas é o tipo de homem que habita o imaginário de muitas mulheres. Forçando a vista, dá para perceber que Grey tem o fortuna dos prícipes encantados que assistimos na infância, só que no lugar do cavalo branco existe um helicóptero. Não estou defendendo o livro acima citado, defitivamente não é o meu tipo de leitura. O que estou dizendo que uma análise do sucesso do livro revela muito sobre as pessoas que o leem.
Para terminar, o fato é que uma posição contruida socialmente pode ser abraçada livremente e conscientemente, Simone de Beauvoir.
http://www.paranaonline.com.br/colunistas/contracapa/107859/TRILOGIA+CINQUENTA+TONS+DE+CINZA+JA+VENDEU+MAIS+DE+55+MILHOES+DE+COPIAS
http://g1.globo.com/pop-arte/noticia/2015/06/grey-novo-livro-50-tons-de-cinza-quebra-recorde-no-reino-unido.html
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