domingo, 26 de abril de 2015

Submersa

    De alguma forma, as palavras de Chico Buarque se tornaram realidade. Essa história se passa alguns anos depois que o Rio de Janeiro se tornou uma cidade submersa. Com a água tendo subido até os pés do Cristo Redentor muitas pessoas foram transladadas para lugares bem mais altos.
   Estavam olhando a noite, analisando o possível aumento das marés, quando ele caiu no chão como se seu fluxo sanguíneo tivesse sido interrompido à semelhança da energia elétrica quando acaba. Os médicos deram todas as explicações científicas, porém nada a confortou. Ele está morto.

terça-feira, 21 de abril de 2015


    Quem escreve sempre se depara com o desafio do papel em branco ou da página do word e o cursor piscando à espera da primeira palavra, da frase inicial, do parágrafo introdutório do texto. Mas outros problemas rondam quem escreve, e não precisa ser um escritor consagrado para sentir na pele o desafio que é escrever. Nunca é fácil. Os alunos pensam que são só eles que sofrem com as palavras ou com a ausência delas na hora de começar a digitar uma redação, um trabalho escolar, um desabafo.
   Como eu dizia, todos que escrevem sofrem com a escrita porque escrever é como tornar um sentimento em um fato concreto, nomear é fazer existir. Assim, muitas vezes se escreve, mas o sentimento escrito não é uma representação total do que se sente. As palavras são limitadas, mesmo que o vocabulário seja muito sofisticado, E os sentimentos são, muitas vezes, impossíveis de explicar. Mesmo você falando, relembrando, adjetivando-os, sempre está faltando mais palavras. Em muitas situações da vida, preferimos o silêncio, não pela falta do que dizer, mas porque se tem muito a dizer. E ainda dizendo muito, falando tudo, ainda está, por dentro, aquele pedacinho intocável, "indizível".
   Dessa forma, escrever limita. Mesmo me limitando, eu escrevo. Escrevo com a esperança de mudar alguma coisa, ainda que seja para mudar algo dentro de mim. Escrevo na esperança de que, se alguém ler, se identifique, ou não se identifique, mas seja qual for o caso, terei alguém testemunhando meus sentimentos. Alguém além de mim mesma.
   As estações estão mudando depressa. Ainda ontem foi meu aniversário, e embora eu vivesse um inverno particular, era primavera em toda sua plenitude. Agora é outra estação. Dessa vez as águas de março não fecharam o verão. Vivemos escassez de chuva e de sentimentos. Mesmo escrevendo tentando descrev

sábado, 11 de abril de 2015

Cristianismo: teoria e prática

CRISTIANISMO: teoria e prática
"Marx disse isso", "Marx disse aquilo", "É que Marx...", cita Marx, mas não cumprimenta o porteiro. Trata a caixa do mercado como empregada e, na classe executiva, teoriza sobre um mundo igualitário, quando seu mais profundo desejo é que o mundo continue melhor para ele. É um teórico, cujo ápice das suas melhores ideias é questionar as religiões enquanto arrota suas teorias.
Infelizmente, a hipocrisia não é um privilégio dos religiosos, ela está igualmente presente na política e na sociedade. Quando alguém cita uma ideia ou se diz partidário de uma determinada visão de mundo, o mínimo que se espera dela é que aja em conformidade com o que diz, se não o faz é porque sua teoria é um verniz para esconder um mau caráter.
O mesmo acontece, obviamente, com quem se diz cristão. Se o indivíduo não pratica o que prega, por que dar-lhe ouvidos? Você continuaria em uma igreja em que soubesse que o pastor é adúltero? Por que então continuamos em uma igreja quando sabemos que o dinheiro pedido ultrapassa a marca do razoável e passa a ser vergonhoso? Por que continuamos nessa congregação quando a beleza do templo é mais importante do que ajudar os irmãos mais necessitados? Porque, à semelhança do teórico, nosso cristianismo não tem passado de teoria.
Sentados em bancos confortáveis, esperamos que a mensagem seja edificante, isto é, desejamos o conforto dela para seguir de pé mais uma semana, porém, uma vez saciados, o próximo (que é o nosso irmão na fé) não tem o que comer.
Enquanto o marxismo pode ser apenas teoria, o Cristianismo não pode. Uma fé precisa se revelar nas atitudes. Se ser cristão é só ocupar um banco, ter uma carteirinha de membro, possuir um jargão próprio, ser escolhido para um cargo, é porque ele perdeu sua relevância e tornou-se um hábito oco e vazio, podendo ser substituído por uma opinião política, filosofia ou uma nova visão de mundo.
A pior coisa que pode acontecer com a fé é ela se tornar religião. E sabemos que existem muitas religiões porque existem diversas teorias. Ter uma religião, nesse contexto, é possuir uma teoria sobre Deus.
Se a pior coisa que pode acontecer com a fé é ela se tornar religião, a pior coisa para um cristão é tornar-se um teórico. Alguém que conhece muito sobre um determinado assunto, mas não possui a interioridade do que diz.
Falando em interioridade, é bom lembrar o que ocorre com muitas igrejas evangélicas no Brasil. Aqui, ser cristão é apenas frequentar uma das centenas de denominações existentes. Segundo o último censo, no Brasil há mais de cinquenta milhões de evangélicos. Mas não se pode dizer que eles são teóricos ou cristãos. Boa parte desse número, provavelmente diz respeito a pessoas que frequentam igrejas que não são nem teóricas e nem cristãs. Não são teóricas porque não dominam (ou se esforçam para) estudar/compreender a Bíblia. Muitas não sabem o que diz em João 3:16. Se conhecimento é poder, elas não têm poder nenhum. Nos dois sentidos que a palavra poder possui, estão a anos-luz de ser capazes de teorizar sobre a palavra de Deus. Não são, portanto, teóricas, são meras frequentadoras de igreja. À frente, listarei os motivos que fazem essas pessoas continuarem /frequentarem uma igreja.
Tampouco pode-se afirmar que nesses cinquenta milhões uma grande parte seja cristã. Não são cristãs porque não nasceram de novo, se fossem regeneradas sua prática revelaria, uma fé autêntica não pode ser guardada no bolso. Junto com o movimento gospel, os cantores e pastores celebridades, há uma multidão de seguidores frequentando igrejas sem querer de fato abandonar o mundo. Quando o mundo não é abandonado, assistimos a cultos cujo entreterimento é mais importante do que a pregação do evangelho. Em quantos cultos você já foi em que havia tantas atrações (celebridades gospel, teatro, cantores, danças, pedidos de ofertas) enquanto a mensagem bíblica ficava para meia hora final, e os membros já se preparavam para ir embora, levantando sem esperar a palavra terminar?
Não me admiro, embora me revolte, quando a teologia da prosperidade faz mais e mais seguidores no Brasil, pois uma mensagem de autoajuda pode ser feita em minutos. Entretanto, uma pregação séria precisa de estrutura, conhecimento, reflexão e raciocínio, tanto de quem fala como de quem ouve.
Como professora, vejo cada vez mais as dificuldades que meus alunos enfrentam para abstrair determinados assuntos (alunos do ensino médio que em breve cursarão uma faculdade), às vezes me pego em sala de aula pensando no trabalho que daria (que dá) estudar a palavra a fundo. O que explica em parte, o entreterimento tomar os cultos.
Eu disse que explica em parte, conheço cristãos sérios que não eram afeitos às matérias da escola, contudo a Bíblia amavam estudar. Assim, explica em parte também porque a qualidade do ensino brasileiro é deficitária, não estou dizendo que meus colegas não têm feito o impossível, porque têm. Mas o aluno deve conhecer a importância do aprendizado para o seu crescimento, o mesmo vale para o cristão ou aquele que busca ser de fato um cristão. Amar a Deus é querer conhecê-Lo mais e melhor.
Analisando os fatos, a culpa da Igreja brasileira está se "pós-modernizando" é, em muito, dos frequentadores de cultos. Sinceramente, acho um perigo essas megaigrejas. Ali, os pastores não conhecem suas ovelhas, não conseguem doutriná-las e cedendo à pressão do público, comprometem o testemunho.
Mas o que faz tantas pessoas frequentarem uma Igreja quando não estão dispostas a abandonar o mundo? Em primeiro lugar, é que elas estão sendo ensinadas assim. Spurgeon, depois A.W.Tozer, depois Paul Washer avisaram/avisam que o entreterimento iria ser confundido com mensagem e vice-versa. Os cristãos autênticos não têm espaço nas igrejas/casa de shows (perdoem-me a franqueza).
A mensagem verdadeira traz a prerrogativa "arrependa-se", e no lugar de pecado há o eufemismo erro. Assim, com uma mensagem moderada, a igreja fica cheia porque é um lugar legal. Os pais adoram seus adolescentes serem do ministério de dança, afinal que há de mau em diminuir o apelo em prol de empurrar a maioria de qualquer forma pela porta estreita? Mas a verdade é que essa porta não é mais estreita, não foi alargada, ela foi destruída. Ter uma igreja lotada hoje é mais importante do que ter uma comunidade salva.
Outros frequentam uma igreja pela ideia de pertencimento que uma comunidade traz, e não há nada de errado em se sentir feliz por ter tantos irmãos e ser acolhido. O acolhimento é parte do testemunho cristão, o receber de braços abertos é uma característica da Igreja. Só que muitos denominações, na ânsia de conquistar fiéis, permitiram que o secularismo viesse junto. Tem-se, portanto, uma igreja cheia, mas profundamente secularizada. No desejo de acolher, terminou aceitando tudo ou disfarçando o secular com o verniz do que atualmente se chama de gospel. Conheço uma igreja que, penso eu, com a ideia de manter os jovens na igreja, começou a fazer bailes gospel. Outras, conforme vimos esse ano, fizeram blocos de carnaval e para santificar de alguma forma, usaram o termo "para Jesus" atrelado ao discurso.
Sinceramente, observando todos os fatos, incluindo os discursos de muitos dos nossos representantes na mídia, há uma geração de cristão que são ateus na prática. Será que quando tudo isso listado acima começou, a velha guarda da igreja evangélica estava dormindo? Por que não zelamos mais pela palavra de Deus? Ser grande é mais importante do que ser verdadeiro? Antes a igreja era julgada por ser fechada demais e afastava as pessoas de fora (o que provou-se ser bobagem), agora ela é pós-moderna demais e afasta os cristãos sérios?!
Muitos cristãos me dizem que eu não devo me preocupar com o que vem acontecendo com as Igrejas, pois o Senhor vela por ela e há uma promessa Dele a guiando. Sei disso, mas como deixar que tentem destruir o que você ama e ainda silenciar sobre isso? Um do pecados que nós, cristãos, mais seremos perdoados é o de omissão.
Agimos como teóricos quando não praticamos o que pregamos, porém somos piores ainda quando por medo de nos indispor com os irmãos, deixamos a moda guiar a nossa Igreja.
Por fim, sejamos cristãos não só na teoria. Que a palavra de Deus seja a nossa vida hoje, amanhã e pela eternidade

quinta-feira, 9 de abril de 2015

teorias, ideologias e afins

   Muito se fala sobre a hipocrisia no meio religioso,  mas, infelizmente, eka não é exclusividade dessa esfera. A hipocrisia está presente também na política e nas visões filosóficas.
Marx disse isso, Marx disse aquilo,  Marx apontou esse fato etc, citam Marx, são seus defensores e não cumprimentam o porteiro,  se acham melhores do que o varredor de rua e enquanto citam Marx pensam nas suas viagens ao exterior e voando na classe executiva, com suas garrafas de champanhe importado, questionam o capitalismo. É para morrer de pena ou de raiva?
Quando as teoria e ideologias (e visões religiosas) não são confirmadas na prática,  se tornam equivocadas e quase desnecessárias.  Sua utilidade se limita a uma discussão de bar para passar o tempo.
    Tempos infelizes esses nossos, ninguém quer o ônus que quaisquer crença suscita. Sentados na cadeira do teórica,  repete-se várias ideias ao mesmo tempo em que agem despreocupadamente como se falar e se comprometer tivessem a anos-luz de distância.
Outrora, essa sociedade viciada em likes, em status e apaixonadas por celebridades, produziu mulheres e homens comprometidos com o que diziam. Quem questionará o testemunho pessoal de Madre Teresa,  Luther King e Gandhi. Cite um teórico atual (religioso ou não) cujo caráter marcou/marca o século XXI.
   Vivemos uma crise ideológica,  crise sim, crise porque somos bons falantes, péssimos ouvintes e supernegligentes na prática de nossas ideias.