quarta-feira, 18 de fevereiro de 2015

Por que sai da igreja?

A primeira vez que entrei em uma igreja evangélica,  eu tinha um pouco mais de onze anos. Naquela época,  quem tinha essa idade podia ser considerada criança ainda. E foi com olhar ingênuo que pedi fervorosamente para Deus curar a minha mãe,  a doença dela nos levou àquela igrejinha que funcionava em um porão.
Não lembro muitos detalhes dela nessa época,  foi um tempo muito sofrido para todos nós,  talvez  por isso as lembranças me fogem. São só imagens soltas em minha memória,  imóveis, como fotografias. Lembro, inclusive, quando essa mesma igrejinha se mudou para uma garagem no bairro Getúlio Vargas. Era uma Igreja pentecostal, bem barulhenta cuja música se ouvia a duzentos metros de distância.  Lembro com carinho da canção Noites traiçoeiras,  eu ficava bastante comovida. Não sei se entedia o significado de traiçoeira,  mas a parte "Se a cruz pesada for, Cristo estará contigo" não tinho como não entender. Sei que Deus me chamou ali, no meio da minha dor.
Deus atendeu meu pedido, minha mãe ficou curada, e o tempo passou. Continuei frequentando aquela igreja até amadurecer um pouquinho e começar a questionar muitas coisas que via e ouvia.
Me afastei de lá, porém continuava orando, tendo em vista um comportamento cristão apesar do meu temperamento que era  bastante explosivo.
Em geral,  estudar sempre me interessou muito. Tinha desde de cedo o sonho de ter uma profissão e ter uma vida melhor. Minha adolescência foi passada junto a muitos livros. Às vezes lia um por tarde, era chegar da escola, almoçar e ler, ler. E o tempo continuou passando.
Quando cheguei ao terceiro ano, já estava pensando em uma forma de cursar faculdade. Uma amiga me arrumou emprego e eu juntei dinheiro para pagar adiantado seis meses da faculdade de letras que muito me encantou.
Ao mesmo tempo,  comecei a frequentar outra igreja evangélica,  uma igreja bem grande. Eu entrava muda e saia calada. Sei que na minha mente ainda estava muito do cristianismo que aprendi na primeira igrejinha. Na nova igreja, eu aprendi e consolidei muitas das minhas visões a respeito do verdadeiro evangelho. Me batizei no dia 27 de outubro de 2002.
Frequentava esta igreja sozinha, alguns da minha família foram para outras denominações,  outros simplesmente deixaram de ir pouco a pouco. Passaram-se anos, eu trabalhei em uma escolinha e paguei com bastante sacrifício a minha faculdade e, graças a Deus, me formei.
 Todo esse tempo, continuava firme na igreja em que me batizei. Para ser sincera, nunca foi difícil para mim evitar comportamentos que supostamente são típicos de jovens. Baladas e bebidas nunca me tentaram. Sempre fui meio nerd. Sempre preferi a companhia dos livros. Além da igreja, eu ia bastante ao cinema ou lanchar com amigos da faculdade.
Terminei a faculdade e por motivos que hoje não lembro com exatidão me afastei de muitos daqueles amigos ou foram eles que se afastaram... Agora não importa mais.
Depois de um ano de formada, comecei a trabalhar no estado, era fim de 2007. Eu continuava na igreja, tinha e tenho alguns amigos de lá,  não participava de grupos ou ministérios, era meio tímida e todas as vezes que tentava falar alguma coisa, tinha a impressão de não ser bem recebida. Fiz alguma amizade com as pessoas que sentavam ao meu lado.
No início de 2008, comecei a me sentir mal e fui diagnosticada com depressão e síndrome do pânico.  Foram oito meses muito pesados. A minha angústia não tinha fim. Lembro de ir para igreja me arrastando literalmente, a igreja ficava a uns trezentos metros do meu ponto de ônibus.  Mesmo doente não deixava de ir. De início, tentei contatar uma psicóloga cristã,  mas ao telefone, eu a ouvi mandar dizer que não estava. Uma pessoa da igreja me aconselhou e eu fazia terapia com uma psicóloga que era budista.  Acabei desistindo da terapia, pois a psicóloga não conseguia quebrar a minha resistência de pensar um pouco fora da minha caixinha cristã.  Para ser justa, provavelmente eu também não facilitava para ela. Fosse como fosse, nós não nos entendíamos bem.
Graças a Deus, fui melhorando. Ainda tinha muitos pensamentos ruins porque a depressão me amadureceu e comecei a entender e me assustar com a complexidade do mundo. Me senti totalmente vulnerável, era como se eu não estivesse mais no controle das coisas. Desde então,  ainda não consegui encontrar uma forma de ser menos agredida por esse mundo.
Tinha melhorado um pouco e junto com outras irmãs passei a corrigir a revista da EBD durante uns dois anos. Me indicaram para cargos, aulas lá,  declinava sempre porque não me sentia apta.
Continuava, como chamamos, crente de banco. De alguma maneira, comecei a ir a igreja e notar que algo havia mudado. A palavra não me tocava, pensei que era por causa da depressão que alterou muitas emoções.
Durante todo esse período,  a igreja era meu porto seguro. Ouvi em algum lugar a frase "Nos sempre teremos Paris.", depois descobri que a frase era de um filme. Lembrava da frase e pensava "E eu sempre terei a igreja." Pois Cristo estava fora de questão eu perder. Se tudo o mais desabasse,  poderia correr para igreja. E tudo ficaria bem.
Via na tv, os absurdos de muitos "evangélicos", assistia a muitos líderes que hoje percebo que têm uma teologia herética.Foi durante a minha depressão que conheci C.S.Lewis,  Philip Yancey. Foi no sofrimento que a minha fé se racionalizou e se tornou exigente ao desejar ouvir um culto realmente comprometido com a palavra de Deus. Meus olhos abriram e meu coração começou a desejar aprender mais sobre Deus, se e possível,  me apaixonei novamente por Cristo. A minha fé de fato tornou-se minha base de vida.
Ao mesmo temoo que aprendia teologia, passava a notar muitas coisas nas igrejas que não estavam em consonância com a palavra. Já alonguei bastante, mas é necessário.  As contas pararam de fechar, isto é,  o que eu sabia sobre o Cristianismo não era o que via e ouvia. Em resumo, o problema não bera eu. Assim me sentia diferente em meio aos diferentes. A igreja me ensinou que julgar é pecado, então sofria calada. Chorava por causa da solidão que sentia ali, mesmo próxima daqueles que professavam a mesma fé .
Eu sai da igreja e vai fazer dois anos. Passo a listar os motivos: 1. Culto: vemos qualidade musical