Talvez hoje
Há uma semana atrás, ela viu os fogos de artifício pipocarem luminosidade no céu. Era uma comemoração, pelo menos para ela, muito triste, porque, junto ao ano recém-nascido, a sua infelicidade completa cinco anos.
Presa no trânsito engarrafado da primeira sexta-feira útil do ano, relembra como tudo aconteceu. É um filme de terror que não abandona suas retinas. Até quando está sonhando, ela tem medo. Hoje, está duplamente ansiosa. Hoje seu sofrimento poderá ter fim.
A buzina dos automóveis não perturbam sua reflexão. O calor de verão do Rio de Janeiro não derrete o iceberg que sufoca sua respiração. Quantas mães já perderam seus filhos? Tantas outras tiveram suas crias desaparecidas, tal como ela, sem ter o conforto de terminar seu luto? Sente-se única em sua agonia.
Como pode culpar seus outros filhos de terem seguido com suas vidas? Como pode culpar seu marido de ter desistido de ter esperança e junto desistir de um casamento de vinte e oito anos, se ela mesmo não aguenta sua própria companhia?
Não se reconhece mais, não somente pelas roupas de marca que agora são grandes demais. Não restou nada da mulher festeira que um dia foi. Vai a festas, sorri debaixo do constrangimento que causa em todos ao seu redor. Existe algo mais tocante do que uma mãe na plenitude do sofrimento? Sente-se Maria à beira da cruz vazia.
Há alguns metros do seu trabalho, existe uma pracinha, às vezes ela passa de carro em frente e senta-se em algum lugar da grama, embrulhada em seu terninho de empresária, cruza as pernas e deixa-se estar ali. Aquelas crianças que correm para todos os lados quase são uma ponte que traz seu filho de volta, observando-as consegue detalhes da infância dele. Relembra dele em todas as fases da vida. Todas as fases em que ela o acompanhou. Quem dera, ele ter sido para sempre criança e nunca ter saída de debaixo de seus cuidados. Quando se dá conta do tempo que passou na pracinha... é noite, Hora de voltar para sua casa vazia. Mais vazia sem ela. Mais silenciosa.Tantas e tantas vezes ela dorme no quarto dele...
Todas as manhãs, acorda com um fiapo de esperança que à noite será desfeito pelas lágrimas arrebentando em um travesseiro, com soluços tão altos que ecoam pela mansão silenciosa.
Muitos admiram sua suposta placidez, sua esperança que nunca se torna resignação. Eles estão enganados. Ao olhar-se no espelho, tudo que anseia, sonha, deseja, é uma notícia. Ela quer qualquer notícia. Se culpa de tantas e tantas vezes ter invejado outras mães que tiveram a oportunidade de se despedir e completar o ciclo da dor. E, quem sabe, seguir adiante.
Ela está presa a cinco anos atrás, como se fossem uma bola de concreto prendendo seu pé. Tivera alegrias nesse período, um netinho nasceu e corre pelos corredores, esconde-se atrás dos móveis e a distraí por alguns minutos.
No início, ao ouvir, ainda que distante, o barulho de uma moto, seu coração disparava, tudo nela era expectativa. O próximo som seria do portão rangendo, ele abriria a porta chamando por ela. Ela brigaria com ele para que tirasse as botas sujas do sofá. Não daria a mínima para as reclamações dela, quereria pizza no jantar e reclamaria de tudo, como costumava fazer. "Tão jovem, tão ranzinza.", ela costumava dizer.
Sabe que deixou-se cair em algum lugar nesses cinco anos, não sabe se poderá se reencontrar e trazer a si mesma de volta. A mulher de completo asseio de hoje é um espectro da mulher vaidosa de antes. Não importa, tudo que precisa é de uma notícia. Pela manhã, recebeu uma ligação. As características das roupas coincidem, segundo eles. Já faz tempo que não ligavam. Ela não contou para ninguém, nem para os filhos. Todos tiveram que suportar sua quantidade de alarmes-falsos.
sábado, 17 de janeiro de 2015
sexta-feira, 9 de janeiro de 2015
Sobre religião e terrorismo
SOBRE RELIGIÃO E TERRORISMO
Ao ver alguns jornais associando o termo religião à terrorismo, me preocupa e incomoda o fato de apontarem uma crença religiosa a única culpada por formar um terrorista.
Na verdade, as pessoas não precisam de nada para odiar, pois elas fazem isso sem motivo mesmo. Observe na véspera de feriado o trânsito engarrafado, o sujeito pode ser pacifista, vegetariano, vegano que, se ele não se vigiar, estará brigando por meio metro da via, por uma ultrapassagem não sinalizada ou qualquer outra bobagem. A natureza humana, infelizmente, é má. Só fazemos o bem (ou somos razoavelmente bons) porque alguém se deu o trabalho de nos educar.
Antes que pensem, não estou justificando os terroristas (Deus me livre!), estou tentando mostrar que a religião por si mesma não forma assassinos, é um conjunto de fatores: um deles, como sinalizei acima, é a propensão humana à maldade.
De acordo com o Cristianismo, todos, todos nós temos uma natureza caída, devido ao erro de Adão ao desobedecer a Deus e comer o fruto da única árvore proibida. Depois disso, Jesus veio para que através do seu sacrifício vicário, o homem fosse restaurado até tornar-se aquilo que Deus planejou. Diante disso, o homem só faz o que é certo porque um pouco da bondade divina reluz sobre seres decaídos, sobre nós.
Outro fator, que nunca deve ser ignorado, é que muitos desses terroristas foram educados desde pequenos com uma crença deturpada de que deviam espalhar sua fé ainda que ao seu encalço trouxesse dor, morte, violênfcia. Mais uma vez não estou justificando os atos deles, apenas quero defender o termo "religião" uma vez que ela é atacada sempre que algo semelhante ao 11 de setembro ou aos cartunistas franceses acontece.
Esses dias mesmo, soube de uma pai que rodou o mundo atrás do filho que foi "aliciado" por uma célula terrorista, ignorando toda boa educação que recebeu. O que leva um jovem bem educado, de boa família, a participar de uma ideologia fruto da deturpação de uma religião? Como eu disse, muitos desses criminosos já tinham muito ódio e a alucinação religiosa foi a forma que encontraram para expô-lo.
É bom lembrar, inclusive, que se revermos a história mundial, perceberemos que batalhas foram criadas por diversos motivos, sendo a religião mais um deles. Regimes autoritários ateus também distribuíram muita dor pelo mundo, políticas e ideologias diversas tiveram e têm seus fanáticos de carteirinha. Até porque muitas pessoas colocam "fervor religioso" em suas ideias. Cabe lembrar da discussão acalorada que a última eleição causou aqui no Brasil, separando amigos de longa data. Somos humanos e infelizmente a tolerância nunca foi nosso forte.
Não dá para argumentar que a religião islâmica esta produzindo terroristas e assassinos, mas que terroristas e assassinos estão usando a religião islâmica para extravasar a maldade que está neles. Em resumo, eles são maus (pelos motivos que citei acima) e buscam uma crença qualquer para justificar seus atos, quando a finalidade deles sempre foi a violência pura e simplesmente. Isso acontece muito, se observarmos atentamente o mundo em que vivemos. Veja Hitler que criou bases teóricas diversas para justificar suas ações contra os judeus, quando suas ações eram/são injustificáveis.
O que não pode acontecer é as pessoas pensarem que eliminando as religiões ou criando pessoas menos "crédulas" a violência se reduzirá de maneira significativa. Já ouvi muita gente argumentar veementemente contra as religiões, em especial contra o Cristianismo, esquecendo que ele é alvo de muita intolerância, no link https://www.portasabertas.org.br/cristaosperseguidos/ , há uma mostra disso.
Aqui vou deixar um espaço para alguém falar da Inquisição, Idade Média, Cruzadas e de que o Cristianismo é culpado por eles, quando os mesmo são filhos da deturpação de uma crença: Infelizmente as pessoas que começam argumentando contra o terrorismo acabam acreditando que a secularização torna uma sociedade menos propensa ao ódio, ou seja, menos religião, mais tolerância. Entretanto, não se pode defender o direito de expressão acabando com o direito de cada cidadão exercer sua religião e falar livremente sobre ela, pois isso é criar uma ditadura de opinião em que seu direito só é direito quando não contraria o meu.
Como diria C.S.Lewis: "É IMPOSSÍVEL tornar o homem bom pela força da lei; e, sem homens bons, não pode haver uma boa sociedade. É por isso que temos de começar a pensar no segundo fator: a moral dentro de cada indivíduo. Nada mudará por fora, se algo antes não mudar por dentro."
Como diria C.S.Lewis: "É IMPOSSÍVEL tornar o homem bom pela força da lei; e, sem homens bons, não pode haver uma boa sociedade. É por isso que temos de começar a pensar no segundo fator: a moral dentro de cada indivíduo. Nada mudará por fora, se algo antes não mudar por dentro."
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